Segunda-feira, 03 de março de 2025
Por Redação O Sul | 2 de março de 2025
Após uma série de desastres recentes na aviação, usuários de redes sociais sugeriram que os acidentes aéreos estão mais frequentes. Cada vez mais surgem vídeos mostrando acidentes evitados por pouco, tornando-se uma tendência na internet. Foi o caso das imagens de um avião que capotou ao pousar em Toronto, no Canadá, devido ao mau tempo, e que foram largamente compartilhadas online.
O secretário americano do Transporte, Sean Duffy, teve que ir a público para acalmar os temores, declarando que a série recente de desastres aéreos no país foi um evento “muito específico”. Ele interveio depois de diversos incidentes aéreos sérios, incluindo uma colisão em pleno voo entre um avião comercial e um helicóptero militar, na capital americana, Washington DC, no fim de janeiro, onde 67 pessoas morreram.
No Brasil, um avião de pequeno porte caiu no centro de Gramado (RS), na manhã de 22 de dezembro de 2024, e matou 10 pessoas. No início de janeiro, uma pessoa morreu e quatro ficaram feridas, quando um avião de pequeno porte tentava pousar em Ubatuba, no litoral de São Paulo. Já na manhã de 7 de fevereiro, outra aeronave de pequeno porte caiu na capital paulista, causando duas mortes.
As pesquisas sobre o assunto são limitadas, mas uma enquete recente da agência de notícias Associated Press indicou que as imagens chocantes de acidentes trouxeram algum prejuízo para a confiança na aviação de certos consumidores americanos.
Uma série de incidentes ocorridos nos últimos anos, que envolveram o avião Boeing 737 Max, também atraiu muita atenção na imprensa e nas redes sociais, especialmente depois que uma porta explodiu em pleno voo, em janeiro de 2024.
As preocupações geradas por este e vários outros incidentes levaram alguns clientes a boicotar os aviões fabricados pela Boeing e a um consequente colapso do preço das ações da empresa.
Diminuição
Levantamento da BBC Verify mostrou que, ao longo das últimas duas décadas, a tendência geral foi de queda do número de acidentes aéreos.
Os dados do Conselho Nacional de Segurança no Transporte dos Estados Unidos (NTSB, na sigla em inglês) demonstram uma redução geral dos acidentes aéreos nos Estados Unidos entre 2005 e 2024, apesar do aumento significativo do número geral de voos neste período. Eles também mostram que a quantidade de acidentes em janeiro de 2025 (52) foi inferior a janeiro do ano passado (58) e janeiro de 2023 (70).
O mesmo demonstra os dados da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO, na sigla em inglês), órgão das Nações Unidas que monitora os incidentes aéreos globais. Os números demonstram que os de acidentes por milhão de decolagens em todo o mundo também registraram clara tendência de queda entre 2005 e 2023.
A definição de acidente aéreo da ICAO é bem ampla. Ela não inclui apenas os eventos que causam a morte ou ferimentos sérios entre os passageiros ou a tripulação. A organização também inclui incidentes em que uma aeronave é danificada, precisa de reparos ou simplesmente desaparece.
Grandes desastres
Os picos em alguns anos são consequência de grandes desastres aéreos. Em 2014, dois eventos colaboraram para que houvesse um pico significativo. Em março, o voo MH370 da Malaysia Airlines desapareceu durante uma viagem de Kuala Lumpur, na Malásia, para Pequim, na China. Havia 239 pessoas a bordo. Já em julho, um míssil de fabricação russa derrubou outro avião da mesma empresa (que fazia o voo MH17, de Amsterdã, na Holanda, para Kuala Lumpur) enquanto voava sobre o leste da Ucrânia, o que vitimou quase 300 pessoas.
“Se você contar as mortes em vez dos acidentes, a tendência é que [os dados] sejam extremamente voláteis e sensíveis a um único acidente de grande porte”, explica o professor emérito de estatística David Spiegelhalter, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
“Eventos aleatórios não ocorrem de forma regular — eles tendem a se agrupar. Por isso, infelizmente podemos esperar acidentes aéreos que parecem ser conectados, mesmo que não sejam.”
Imprevisíveis
Em relação à série de acidentes importantes nos últimos meses, o ex-investigador-chefe de desastres aéreos da Finlândia, Ismo Aaltonen, declarou que não se trata de uma indicação de queda da segurança das aeronaves.
“É uma grande infelicidade termos observado este período com vários tipos distintos de acidentes”, afirmou ele. Mas as pessoas não devem tirar conclusões com base neles, pois são casos muito diferentes [entre si].”
Aaltonen observou que alguns dos incidentes dos últimos meses eram imprevisíveis. Ele menciona o caso de um avião da Azerbaijan Airlines que caiu no Cazaquistão em dezembro. Ele foi atingido por um míssil antiaéreo da Rússia.