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Acima de todos, Bolsonaro enquadra governadores da direita e quer dar a palavra final sobre as eleições de 2026

Inelegível, ex-presidente busca reafirmar sua primazia na definição de uma candidatura presidencial deste campo no próximo pleito. (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Após governadores da direita acumularem vitórias em seus estados no primeiro turno das eleições municipais, o ex-presidente Jair Bolsonaro busca reafirmar sua primazia na definição de uma candidatura presidencial deste campo para as eleições de 2026, quando estará inelegível. Bolsonaro inaugurou uma nova ofensiva neste segundo turno contra os governadores do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União), apontados como pré-candidatos por seus partidos.

A interlocutores, o ex-presidente também frisou que uma candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), precisaria de seu próprio aval. Ele reconhece, porém, que o aliado é o favorito para despontar como herdeiro do espólio bolsonarista.

Outro governador, Romeu Zema (Novo), de Minas, que tenta se posicionar como possível vice de Tarcísio, busca colar em Bolsonaro. O mineiro vem fazendo uma peregrinação em apoio a candidatos do PL a prefeito em outros estados, como Goiás e Mato Grosso.

Funil bolsonarista

Em conversas reservadas, o ex-presidente tem descartado a hipótese de apoiar Zema ou Caiado em 2026. Ambos se colocaram como adversários do PL em seus estados nas campanhas deste ano. Outro que entrou mais recentemente na mira foi Ratinho Jr., que até então mantinha boa relação com o partido de Bolsonaro. O PL indicou o ex-deputado e jornalista Paulo Martins como vice na chapa de Eduardo Pimentel (PSD), candidato apoiado pelo governador em Curitiba.

Na reta final, Bolsonaro entrou na campanha de uma rival de Pimentel, a jornalista Cristina Graeml (PMB), no período que coincidiu com uma ofensiva nacional de lideranças do PL contra o PSD. Os dois partidos têm rivalizado sobre diferentes assuntos, que vão desde o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) até a hipótese de Tarcísio concorrer à Presidência em 2026.

Aliados de Bolsonaro, que sempre declarou ter “amizade” com Graeml, manifestaram incômodo com a hesitação da campanha de Pimentel em vincular sua imagem à do ex-presidente. Bolsonaro retribuía, por sua vez, com um apoio “envergonhado” ao candidato do PSD. O caldo entornou às vésperas do primeiro turno, quando mensagens apócrifas, atribuídas falsamente ao ex-presidente, passaram a circular na capital paranaense com críticas a Graeml. A situação piorou na semana passada, após o presidente do PSD, Gilberto Kassab — desafeto de Bolsonaro—, apontar Ratinho Jr. como presidenciável.

Na véspera do primeiro turno, Bolsonaro autorizou Graeml a gravar uma chamada de vídeo na qual ele pedia que, “para combater fake news (…) do outro lado”, a candidata passasse a dizer que “tem o apoio” do ex-presidente. Além disso, interlocutores de Bolsonaro afirmam que ele passou a criticar Kassab diariamente em disparos de mensagens pelo WhatsApp.

Pimentel tentou recalcular a rota no segundo turno e trocou seu antigo marqueteiro, Juca Pacheco, que priorizava a imagem de Ratinho Jr. na campanha, pelo argentino Jorge Gerez, que deu tom mais incisivo às inserções de TV. O incômodo no entorno do ex-presidente, porém, foi exposto na terça-feira pelo vereador Carlos Bolsonaro, que compartilhou o trecho de um debate no qual Pimentel diz que “o que vale não são os apoiadores”, sugerindo distanciamento do bolsonarismo.

O vice Paulo Martins saiu em defesa de Pimentel e disse, em resposta a Carlos, que o aliado frisou ter apoiado Bolsonaro em 2022. O próprio Martins, porém, pouco tem aparecido nas atividades de campanha, em um indicativo da saia-justa do PL em Curitiba. O esforço de Pimentel, agora, é para conter danos e evitar uma viagem de Bolsonaro a Curitiba para atuar na campanha de Graeml. A possibilidade, segundo o portal “Metrópoles”, é discutida no entorno do ex-presidente.

Bolsonaro já mergulhou em campanhas de segundo turno em Goiás, onde passou a atacar Caiado e seu candidato a prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (União), que enfrenta o bolsonarista Fred Rodrigues (PL). Na última sexta, em comício na capital goiana, o ex-presidente chamou Caiado de “rosnador” e procurou miná-lo no eleitorado mais à direita:

“O União Brasil, aqui do chefe, do rosnador, tem ministério do PT. Quem está com o PT não tem moral para falar nada.”

Caiado é o único que já vem se posicionando publicamente como candidato à Presidência em 2026, sem a anuência de Bolsonaro. Os planos também são conflitantes a nível estadual: Caiado planeja lançar como sucessor o vice-governador Daniel Vilela (MDB), enquanto o PL quer a candidatura do senador Wilder Morais.

Em meio ao conflito aberto entre Caiado e Bolsonaro, Zema mergulhou em campanhas de Goiás nas quais o PL se coligou ao Novo. Em Goiânia, Zema discursou ao lado do bolsonarista Fred Rodrigues na sede do PL, com ataques velados a Caiado e a Mabel:

“Goiânia tem uma decisão muito importante: se quer um político jovem, que veio para mudar os vícios da velha e má política definitivamente, ou se quer continuar com os mesmos de sempre.”

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