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Por Redação O Sul | 23 de junho de 2017
A BNDESPar enviou carta ontem à JBS pedindo convocação de assembleia extraordinária de acionistas para avaliar os impactos negativos das delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da empresa, segundo fonte com conhecimento do assunto. Uma das possibilidades que devem ser debatidas na assembleia é o afastamento da família Batista da gestão da companhia.
A carta foi encaminhada por orientação do presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro. Desde que assumiu a presidência do banco, em 1º de junho, vem se inteirando da questão. Pela Lei das S.A., qualquer acionista com mais de 5% do capital da companhia pode convocar uma assembleia. A BNDESPar tem 21% das ações com direito a voto. A família Batista controla a JBS, com 42,5% do capital votante. Caberá ao presidente do Conselho de Administração, Tarek Farahat, marcar a assembleia.
Minoritário quer compensação
Joesley Batista renunciou ao cargo de presidente do Conselho no fim de maio. Mas seu pai, José Batista Sobrinho, ainda ocupa a vice-presidência do órgão, no qual Wesley Batista também é membro. Wesley acumula ainda o cargo de presidente executivo da companhia.
O afastamento de membros da família Batista do comando da JBS não está explícito na carta. Mas a visão compartilhada pela BNDESPar e outros minoritários é que a presença do clã Batista no dia a dia da empresa agrava a crise de confiança por que passa a gigante do setor de carnes, limitando o acesso a crédito e colocando em risco milhares de empregos.
A principal preocupação do BNDES, segundo uma fonte, é com a preservação de valor da companhia e dos postos de trabalho. Líder mundial do setor de proteína animal, a JBS já perdeu metade de seu valor de mercado desde a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, deflagrada em março. A empresa também é alvo da Operação Bullish, que investiga supostas irregularidades em transações que envolvem o BNDES e a JBS.
Procurados, BNDES e JBS não fizeram comentários. Paralelamente à articulação para o afastamento da família Batista, a Associação dos Investidores Minoritários do Brasil prepara ação pedindo ressarcimento aos minoritários das perdas causadas pelas irregularidades cometidas pelo comando da JBS. A empresa já pôs vários ativos à venda para honrar compromissos.
Fibria quer comprar Eldorado
Outras empresas do grupo J&F seguem em negociação com possíveis compradores. Além dos chilenos da Arauco, a brasileira Fibria entrou na disputa pela Eldorado Brasil, empresa de celulose do grupo. Na semana passada, os chilenos tinham “confidencialidade” nas conversas com os irmãos Joesley e Wesley Batista. Mas, em comunicado ao mercado, a Fibria informou que tem interesse pelo ativo.
“A Fibria, como líder mundial na produção de celulose de eucalipto, avalia e monitora constantemente oportunidades de crescimento por meio de aquisições de ativos estratégicos que agreguem valor para a companhia e contribuam para manter o seu papel de liderança no setor. A empresa informa que, apesar do interesse, até o momento, não se vinculou de forma alguma a uma operação de compra dos ativos da Eldorado Celulose”, diz a nota.
Analistas da Coinvalores avaliam que a entrada da Fibria na briga pela Eldorado pode ajudar a reverter, a curto prazo, a tendência negativa das ações nos últimos dias. Ontem, os papéis da Fibria caíram 0,45% , a R$ 35,31.
Outro analista de mercado avalia que o fato de a Fibria ter uma unidade na mesma cidade que a Eldorado (Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul) traz ganhos de logística para a empresa.
“Os ganhos com a sinergia de logística e florestal serão enormes se o negócio se concretizar”, diz um analista que prefere não se identificar.
Arauco teria oferecido R$ 11 bilhões
A Arauco é um dos maiores produtores de celulose no mundo e tem negócios em 75 países. No Brasil, tem nove unidades, que fabricam apenas painéis de MDF e não celulose. A Eldorado seria uma porta de entrada nesse mercado no Brasil. Os chilenos contam com a assessoria do banco Santander Brasil. Na quarta-feira, uma comitiva chilena visitou as instalações da Eldorado em Três Lagoas
A Fibria é a maior produtora de celulose no mundo e exporta 90% de sua produção. A receita líquida da companhia chegou a R$ 9,6 bilhões no ano passado, com lucro de R$ 1,6 bilhão. Conta com fábricas localizadas em Três Lagoas, Aracruz (ES), Jacareí (SP) e Eunápolis (BA), onde mantém a Veracel em joint-operation com a Stora Enso. Em sociedade com a Cenibra, opera o único porto brasileiro especializado em embarque de celulose, Portocel (Aracruz, ES).
Segundo uma fonte que acompanha o mercado de celulose, a Suzano também teria interesse na fábrica de Três Lagoas, mas não entrou nas negociações. A Suzano não comenta o assunto. Os valores da transação seguem indefinidos. No mercado circula a informação que os chilenos fizeram uma oferta de R$ 11 bilhões.