Zeus bate à porta do céu. São Pedro o recebe. Mal entra, o deus dos deuses ouve aplausos intermináveis. Entende logo. Anjos, arcanjos, serafins e demais moradores do paraíso recebem Bibi Ferreira. O dono da casa, fã dos fãs, está na primeira fila.
O senhor do Olimpo espera com paciência. Quando surge a oportunidade, aproxima-se de Deus. Os olhos de ambos se encontram. Gentil mas determinado, o grego solta o vozeirão:
— O lugar da Bibi é no Olimpo. Lá vive Dionísio, o deus do teatro. Nada mais justo que fiquem juntos.
Protestos ecoam. Deus entende. Os celestes também querem a estrela. Sorri. Mira o visitante e propõe:
— Que tal ouvir a diva?
Bibi faz a escolha salomônica. Passará seis meses no Olimpo. E seis meses no céu. O calendário ajuda. No verão, quando o céu exibe todo o esplendor, a musa brilhará com os astros. Mas sobressairá. À noite, olhe para o alto. Lá estará ela.
Dionísio
O deus do teatro tem uma história pra lá de legal. Sêmele esperava um filho de Zeus. Um dia, quis ver o senhor do Olimpo em todo seu esplendor. Ops! Zeus era o deus dos deuses. Tentou demovê-la de tão arriscado pedido. Não conseguiu. Então se mostrou pra jovem. Explodiram clarões. Ela não aguentou tanta beleza. Morreu na hora.
Zeus tirou o filho da barriga da mãe, abriu a própria coxa, pôs o bebê lá dentro e costurou a pele. Meses depois, o garoto nasceu bonito e cheio de saúde. Quando cresceu, tinha um propósito — alegrar a vida das pessoas.
Vidão
Descobriu a vinha e inventou o vinho. Viajou muito. Andava em carro puxado por panteras e decorado com folhas de hera e parreira. Com ele, iam as bacantes, mulheres que se vestiam de pele de leão. Elas viviam em festas. Bebiam, dançavam, cantavam e contagiavam crianças e adultos de entusiasmo, animação e otimismo.
E agora?
Dionísio vive entre nós. O deus frequenta as comemorações em que os convidados se sentem tão felizes como se estivessem no paraíso. Ele aparece nas festas e reuniões de amigos. Como saber se está presente? Olhe pra lá e pra cá. Todos estão felizes? Não duvide. Dionísio está no pedaço. Com ele, Bibi Ferreira.
Último adeus
A rainha dos musicais nos deixou. Telejornais, depois de tantas tragédias, explodiram de alegria. Ao dar a notícia, mostravam imagens da diva em palcos de Europa, França e Bahia. Em todos, era só brilho. Repórteres terminavam a apresentação falando em “hora do último adeus”.
Muitos estranharam. “Último adeus” seria pleonasmo? A resposta: não. Há despedidas e despedidas. Nas mais curtas, dizemos tchau, até já, até logo, até logo mais. Nas médias, até a vista. Nas compridonas, adeus. Durante a vida, podemos dar vários adeuses à mesma pessoa. Na morte, damos o último. Não é redundância.
Carícia
Aplausos acariciam os ouvidos de músicos, atores, declamadores, contadores de histórias. Se o público ficar de pé, a satisfação cresce. Mas só chega ao auge se a plateia entoa em coro o italianíssimo “bravo, bravo, bravo!”
A palavra em português tem vários significados. Um deles: irritado, enraivecido, chateado. O outro, o bem-amado. Na língua dos Césares, de Marcello Mastroianni e Sophia Loren, o dissílabo usualmente quer dizer ótimo, excelente, capaz, hábil.
Leitor pergunta
O jornal A Tribuna de quarta-feira publicou a frase “Rock rural está mais vivo do que nunca”. Fiquei na dúvida. O do está correto? Ou seria “Rock rural está mais vivo que nunca”? — Fernando Pateo, São Vicente.
Nas comparações, Pateo, o do é facultativo. Você escolhe. A alternativa é acertar ou acertar: Rock rural está mais vivo do que nunca. Rock rural está mais vivo que nunca. O discurso do diretor foi mais aplaudido (do) que o do presidente. Maria é menos estudiosa (do) que os irmãos.