Marco Aurélio da Silva Canal, suposto chefe do esquema criminoso que extorquia dinheiro de investigados da Operação Lava-Jato, pediu para não ficar na mesma cadeia de outros detidos pela força-tarefa, horas após de ele próprio ser preso nesta quarta-feira (02).
A solicitação diz que ele “é funcionário público da Receita Federal, com atuação em procedimentos referentes a pessoas e empresas alvo de fases da operação Lava-Jato”. Por isso, diz o documento, Canal deveria ficar ou na penitenciária de Benfica ou na de Niterói.
O grupo criminoso liderado por ele, segundo a investigação, descobria quanto os réus deviam em multas para a Receita após as revelações feitas pela Lava-Jato e, em vez de cobrá-las, sugeriam o pagamento de vantagem indevida. Nesta quarta-feira, 12 integrantes do bando foram presos.
Canal é supervisor de Programação da Receita e trabalha no local desde 1995, com remuneração líquida de R$ 21,8 mil. A Lava-Jato contou com escutas autorizadas pela Justiça e ações controladas – como adiar o cumprimento de mandados de prisão – para localizar os suspeitos. O grupo, na prática, executava as multas contra investigados, com base nas ordens do Escritório de Pesquisa e Investigação na 7ª Região Fiscal – este, sim, integrante da força-tarefa da Lava-Jato.
“Em nenhuma das investigações foi requerido o compartilhamento de informações com a equipe de Canal”, destacou o o MPF (Ministério Público Federal), no pedido de prisão. “Canal passava a ter conhecimento dos fatos investigados pela Força-Tarefa da Lava-Jato somente depois que eles se tornavam públicos”, explicou.
Gilmar Mendes
O principal alvo da Operação Armadeira e apontado como chefe do esquema criminoso pela Polícia Federal é o auditor-fiscal Marco Aurélio da Silva Canal, supervisor nacional da Equipe Especial de Programação da Operação Lava-Jato. Esse técnico já havia sido acusado por irregularidades na divulgação de dados do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e de sua esposa, Guiomar Feitosa. O ministro chegou a citá-lo, nominalmente, por abuso de autoridade.
“Eu sei e a Receita sabe que houve abuso nesse caso. O que se sabe é que quem coordenou essa operação é um sujeito de nome Marco Aurélio da Silva Canal, que é chefe de programação da Lava-Jato do Rio de Janeiro”, disse Gilmar Mendes, há cerca de sete meses. O ministro disse também que o vazamento dos dados pessoais fez parte de uma operação de “baixo nível” para atingi-lo. “Estão incomodados [os responsáveis pelo vazamento] com o quê? Com algum habeas corpus que eu tenha concedido na Lava-Jato?”, questionou à época.