Giorgia Meloni, a primeira-ministra eleita da Itália, emplacou um colecionador de bustos de Benito Mussolini para presidir o Senado e um homofóbico e admirador de Vladimir Putin no comando da Câmara de Deputados. Com os pés fincados na extrema direita, o senador Ignazio La Russa pertence ao partido Irmãos da Itália, o mais votado do país e liderado pela nova premiê. Já o deputado Lorenzo Fontana é vinculado ao presidente da Liga, Matteo Salvini.
A escolha de ambos resume o que será a era Meloni para a Itália, que pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial elegeu um governo ultraconservador e com raízes no fascismo. Antevê também problemas na coalizão de direita que sustenta a premiê, formada pelo tripé Meloni-Berlusconi-Salvini, responsável pela formação de um novo governo.
Aos 75 anos, La Russa não teve apoio de Berlusconi, líder da Força Itália, de volta ao Senado. Ele tentou chantagear a premiê para nomear uma protegida, a ex-enfermeira Licia Ronzulli, para um cargo no governo. Meloni correu por fora, conseguiu votos na oposição e enquadrou Berlusconi, que saiu humilhado.
Nesse embate, é difícil escolher quem é o mais polêmico. Filho de um ex-ministro de Mussolini, La Russa tem Benito no nome do meio e seguiu os passos do pai na admiração pelo Duce. Liderou a ala juvenil do Movimento Social Italiano, fundado por saudosistas de Mussolini no pós-guerra, e acumulou uma coleção de objetos da era fascista.
Durante a pandemia, que castigou duramente os italianos, La Russa declarou que uma saudação fascista era uma proteção eficiente contra o vírus e deu um conselho infame pelo Twitter: “Não aperte a mão de ninguém. Use a saudação romana, antivírus e antimicrobiana.” Como presidente do Senado, ocupará o segundo cargo mais importante do Estado, depois do presidente da República.
Lorenzo Fontana, de 42 anos, enfrentou quatro votações até ser eleito presidente da Câmara, como indicado de Salvini, cujo partido teve 8% dos votos. Católico fervoroso, ele levanta a bandeira contra o casamento entre homossexuais e o aborto.
Sua escolha foi imediatamente rechaçada por grupos de defesa dos direitos LGBTQIA+. Repete com insistência que “famílias gays não existem” e é defensor da retirada da cidadania de filhos de casais homoafetivos italianos nascidos no exterior.
Tal como o líder da Liga, Fontana admira Putin, a quem trata como uma referência “para os que acreditam em um modelo identitário da sociedade”. Ele se alinha também a Trump e a partidos extremistas da Europa, como o grego Aurora Dourada e o Alternativa para a Alemanha.
A devoção ao presidente russo, contudo, o afasta da futura primeira-ministra, que se diz pró-Ucrânia/OTAN e defensora das sanções aplicadas pelo Ocidente. Meloni deverá ser empossada no fim do mês, mas tudo indica que a mudança de rumo, para a extrema direita, começou a vigorar na Itália.