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Admirador do Brasil, prefeito francês que se destacou na Olimpíada pode virar o primeiro-ministro da França

Karim Bouamrane, de 51 anos, tem sido citado como uma forte aposta para ocupar o cargo. (Foto: Reprodução)

Passado mais de um mês das eleições legislativas francesas, antecipadas para julho deste ano devido à dissolução da Assembleia Nacional por Emmanuel Macron, o presidente ainda não nomeou seu novo primeiro-ministro. Enquanto as especulações em torno do nome do próximo chefe de governo aumentam, o chefe de Estado recebeu na última sexta-feira os presidentes dos grupos e dirigentes partidários para dialogar sobre a escolha.

Nos últimos dias, o nome de Karim Bouamrane, de 51 anos, prefeito de Saint-Ouen – cidade a apenas 9 km ao norte de Paris, com ligação direta à capital francesa por duas linhas de metrô –, tem circulado nos bastidores e também na imprensa, tendo sido citado como uma forte aposta para ocupar o cargo que hoje é de Gabriel Attal pelos jornais “Le Monde”, “Le Figaro” e “L’Opinion”.

Bouamrane não é um político conhecido nacionalmente, mas se destacou recentemente, durante os Jogos Olímpicos, porque sua cidade acolheu atletas de todo o mundo, principalmente os brasileiros, pois abrigou o centro de treinamento do Comitê Olímpico do Brasil (COB), assim como um castelo que foi designado como espaço para os atletas brasileiros comerem pratos típicos, descansarem e receberem familiares e amigos, o que não era permitido na Vila Olímpica.

Na reportagem publicada no último dia 21 de agosto, “Le Monde” tenta explicar “o súbito hype” em torno de Karim Bouamrane, do Partido Socialista – nome rejeitado pelo partido A França Insubmissa (LFI, na sigla em francês), de extrema esquerda e também parte da aliança Nova Frente Popular, primeira força política do país na nova Assembleia Nacional, eleita no dia 7 de julho, com 182 assentos.

“Há sempre alguma coisa acontecendo em Seine-Saint-Denis, um território de talentos, e Karim é um deles”, afirmou o ex-presidente socialista da Assembleia Nacional, Claude Bartolone, enquanto o cofundador do SOS Racismo, Julien Dray, disse que vê “o excelente prefeito de Saint-Ouen” como “a próxima geração da esquerda”.

Mas quem é a nova aposta da mídia francesa para ocupar o Matignon (nome do palácio que abriga o primeiro-ministro)? Nascido em Saint-Ouen-sur-Seine em 21 de fevereiro de 1973, de uma família modesta de origem marroquina, Karim Bouamrane se envolveu na política desde muito jovem.

Casado e pai de três filhos, Karim Bouamrane trabalhou também na área de segurança informática, como vice-presidente da Xirrus até 2015, depois como diretor de canal EMEA na Guidance Software (2015-2017) e foi diretor para o Sul da Europa na Bitglass.

Foi membro do Partido Comunista Francês (PCF) durante 20 anos e, em 2014, ingressou no Partido Socialista, do qual foi inclusive porta-voz, além de secretário nacional para a Inovação. Em 2020, em plena crise sanitária, foi eleito prefeito de Saint-Ouen, cidade onde passou a sua infância, pelo mesmo partido, obtendo 38,1% dos votos. Na França, o mandato de prefeito é de sete anos.

Ao tomar posse como prefeito, Karim Bouamrane logo tomou medidas para combater a insegurança, como aumentar o número de policiais municipais e toque de recolher às 22h para menores desacompanhados.

Há quatro anos, quando foi procurado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) que buscava um lugar próximo à Vila Olímpica para construir a sua base de treinamento e de acolhimento para a delegação brasileira, o prefeito de Saint-Ouen viu ali uma oportunidade de alavancar o crescimento e a visibilidade de sua cidade, situada no departamento metropolitano mais pobre da França.

Admirador do ex-jogador de futebol brasileiro Sócrates (1954-2011), de quem ele tem uma foto no seu gabinete e que recentemente virou nome de rua em Saint-Ouen, mas também de Chico Buarque, Djavan, Gilberto Gil, Seu Jorge, do rapper Sabotagem e do Sistema Único de Saúde (SUS), Karim Bouamrane contou ao jornal Valor Econômico que expandiu esta parceria que começou no âmbito esportivo a outras áreas.

“O Brasil é uma das maiores nações do mundo em diversos planos e foi um momento determinante para nós quando fechamos essa primeira parceria.” Logo em seguida, o prefeito explica, orgulhoso, a natureza de outros projetos, muitos deles já avançados, com o país que tanto admira.

No campo esportivo, ele destaca a ida de jovens de Saint-Ouen ao Rio para competir com atletas brasileiros, na natação e no atletismo. Na cultura, ele lembra que 2025 será o ano do Brasil na França e que tem projetos com Emilio Kalil, comissário-geral do Brasil para o ano do intercâmbio cultural Brasil-França, e Marcelo Campos, do Museu de Arte do Rio, para fazer com que artistas brasileiros – “principalmente os do movimento hip hop, mas não só” – venham para a França. No campo das artes, um painel de Eduardo Kobra foi pintado na cidade, que abriga diversas galerias e o maior mercado de pulgas do mundo.

“No campo econômico, eu pretendo fazer com que toda uma geração de jovens empreendedores, mulheres e homens, possam ir se instalar no Brasil ou exportar para o Brasil. É um mercado de 220 milhões de consumidores, um dos maiores do mundo. E, inversamente, fazer com que empresas brasileiras que queiram se instalar na França ou na Europa passem pelo canal econômico de Saint-Ouen”, explica. As informações são do jornal Valor Econômico.

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