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Comportamento “Adolescência”: psicólogo explica riscos da radicalização na internet

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Considerada por críticos como "a coisa mais próxima da perfeição na TV em décadas", aborda temas urgentes. (Foto: Reprodução)

Em um momento em que séries como “Adolescência”, da Netflix, trazem à tona discussões sobre a radicalização online entre jovens, especialistas alertam para os perigos dos movimentos extremistas que encontram terreno fértil na vulnerabilidade emocional dos adolescentes.

A série, considerada por críticos como “a coisa mais próxima da perfeição na TV em décadas”, aborda temas urgentes como a influência da chamada “machosfera” na formação psicológica dos jovens. A trama da minissérie acompanha um adolescente de 13 anos, Jamie Miller (Owen Cooper) que é acusado de matar de forma violenta uma colega de turma da escola.

Marcos Torati, psicólogo, professor e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, explica mais detalhes sobre como funciona esse fenômeno e porque a adolescência é uma fase particularmente vulnerável à influência de discursos polarizados e extremistas.

“Isso ocorre porque os jovens naturalmente têm dificuldades em lidar com ambivalências emocionais. A polarização social pode exacerbar a intolerância interna do adolescente, a adesão ao radicalismo protege o jovem de entrar em contato com certas angústias depressivas que, na saúde, produzem amadurecimento emocional”, comenta ele.

A armadilha psicológica do movimento incel na série Adolescência
De acordo com Torati, o movimento incel (abreviação para “celibato involuntário”), pode afetar os jovens “feridos narcisicamente” de diversas formas, criando um ciclo de isolamento, intolerância e ódio difícil de romper.

“Ao culpabilizar o sexo feminino e o feminismo pela sua condição socioemocional, esses movimentos desobrigam os rapazes de se haverem com suas frustrações e dificuldades psicológicas”, explica ele. Esta transferência de responsabilidade abre caminho para comportamentos preocupantes, como a misoginia e a justificativa da violência contra mulheres. No fundo, o empoderamento feminino expôs a fragilidade histérica masculina.

Um dos aspectos mais prejudiciais, segundo o psicólogo, é como essa ideologia compromete a capacidade de determinados jovens de desenvolverem relacionamentos saudáveis. A alienação psicológica fomentada pelas narrativas do movimento incel obstrui a capacidade de um jovem em desenvolver relacionamentos amorosos e perceber uma mulher como um ser humano inteiro, e não apenas como um objeto idealizado.

“O repúdio às mulheres, que mascara o medo que sentem por desejá-las, não inibe os impulsos sexuais. Isso pode levar a uma exacerbação das práticas masturbatórias, encontrando mais segurança na cyberpornografia, na autossatisfação solitária, e em mulheres idealizadas do que em relacionamentos reais”, comenta.

Hoje, traumas e inseguranças pessoais podem ser camuflados pelo identitarismo e disfarçados como causas sociais, impedindo que o indivíduo busque ajuda psicológica para seus conflitos.

“Aqueles que são incapazes de tolerar os conflitos ambivalentes dentro de si mesmos estão sempre projetando o seu ódio pessoal nos seus adversários”, observa o especialista.

Sinais de alerta

Os sinais de vulnerabilidade psicossocial dos jovens com comportamentos extremistas são identificáveis tanto dentro quanto fora das redes sociais. Entre eles, o especialista destaca: isolamento social, mas com interações intensas na “machosfera” (comunidades online masculinas), comportamentos misóginos, revolta e culpabilização das mulheres pelo insucesso nos relacionamentos, idealização excessiva da masculinidade e condutas narcisistas.

“No fundo, por trás dos comportamentos antidemocráticos desse jovem há alguém tentando controlar o medo da vulnerabilidade que sente diante das mulheres. Sua agressividade e fundamentalismo servem para esconder as feridas narcísicas de sua criança interna frustrada e vulnerável”, acrescenta o psicólogo.

Para Torati, a série, ao retratar os desafios emocionais e sociais dos adolescentes, transforma os pais e filhos, os atores da vida real, em espectadores de suas próprias narrativas diante da tela. A natureza ficcional proporciona um distanciamento seguro das emoções intensas que pode ter efeitos terapêuticos.

“Através do espelhamento da realidade na tela, os espectadores podem se conscientizar sobre as suas próprias situações e comportamentos. O entretenimento pode servir como ferramenta terapêutica, abrindo um espaço seguro para a reflexão e o diálogo sobre temas sensíveis da realidade dos adolescentes e das famílias”, finaliza Torati.

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https://www.osul.com.br/adolescencia-psicologo-explica-riscos-da-radicalizacao-na-internet/ “Adolescência”: psicólogo explica riscos da radicalização na internet 2025-04-06
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