Um estudo que acompanhou alunos do ensino médio desde 1957 até a vida adulta revelou uma correlação intrigante: indivíduos com QI elevado apresentaram maior propensão a consumir bebidas alcoólicas de forma moderada ou excessiva na fase adulta.
Além da inteligência, outro fator destacado como associado ao maior consumo de álcool foi a renda mais alta. Pesquisadores sugerem que isso pode estar relacionado ao aumento do estresse ou às oportunidades sociais, como encontros com amigos e colegas de trabalho, mais frequentes entre pessoas com maior poder aquisitivo.
Na pesquisa, o consumo moderado foi definido como até 29 doses de bebida alcoólica por mês para mulheres e 59 para homens. Contudo, os pesquisadores alertam que, mesmo em quantidades consideradas moderadas, não há um nível seguro de consumo de álcool para a saúde.
Pesquisadores da Universidade do Texas Southwestern, nos Estados Unidos, apresentaram recentemente um aspecto inexplorado dos testes de QI: a relação entre os resultados obtidos no ensino médio e o consumo de álcool na meia-idade. O estudo foi publicado na revista “Alcohol and Alcoholism”.
Segundo os dados, cada aumento de um ponto no QI foi associado a um incremento de 1,6% na probabilidade de consumo moderado ou pesado em comparação à abstinência.
Detalhes do estudo
A pesquisa analisou uma amostra de 6,3 mil homens e mulheres participantes do Estudo Longitudinal de Wisconsin, composto por estudantes que concluíram o ensino médio em 1957. Os dados de QI foram obtidos a partir de testes realizados no primeiro ano do ensino médio.
Quase 50 anos depois, em 2004, esses participantes relataram a quantidade de bebidas consumidas nos 30 dias anteriores e a frequência de episódios de consumo excessivo – definidos como cinco ou mais doses em uma única ocasião. Essa métrica foi usada para identificar o consumo abusivo de álcool.
Os pesquisadores aplicaram técnicas estatísticas, como regressão logística multinomial, para avaliar a influência do QI na adolescência sobre o consumo futuro de álcool. A regressão de Poisson foi utilizada para mensurar o número de episódios de bebedeira. Também foram analisados fatores como renda e nível educacional, devido ao impacto potencial sobre os resultados.
Fatores socioeconômicos
O psiquiatra Sherwood Brown, autor sênior do estudo e professor da UT Southwestern, destacou: “Não estamos dizendo que seu QI no ensino médio controla seu destino”. Segundo ele, o QI pode influenciar fatores sociais que, por sua vez, aumentam as chances de maior consumo de álcool.
Jayme Palka, neurocientista e coautora do estudo, acrescenta que a relação entre QI e hábito de consumo não está diretamente ligada ao nível de educação, mas a fatores socioeconômicos, como a renda familiar. Estudos anteriores já associaram pontuações mais altas de QI a rendas familiares mais elevadas, reforçando essa lógica.
Os pesquisadores observaram que o consumo mais frequente, relacionado a normas sociais de prestígio ou sucesso, foi menos comum entre mulheres do que entre homens. No entanto, a pesquisa se concentrou em um grupo específico de indivíduos – em sua maioria brancos e não hispânicos –, o que limita a aplicabilidade dos resultados a outras populações.