Sábado, 11 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de novembro de 2018
Não bastassem as ameaças do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) sobre uma retirada do governo brasileiro do Acordo de Paris, os seus filhos têm apresentado um histórico público de críticas – algumas delas em tom de deboche – sobre os alertas relativos ao aquecimento global.
No País, a saída do pacto estaria condicionada à aprovação pela maioria na Câmara e no Senado -o PSL de Bolsonaro terá a segunda maior bancada na Câmara Federal a partir de 2019. Desde o ano passado, há menções de Carlos, Flávio e Eduardo Bolsonaro no Twitter sobre aquecimento global.
“O aquecimento global proporcionando o dia mais frio do ano no Rio de Janeiro!”, escreveu o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ) na rede social. “A nova dos destruidores de reputação e comedores de alfafa: quem não acredita em aquecimento global acredita em terra plana! É muita maconha!”, prosseguiu, de forma irônica.
Seu irmão Flávio, senador eleito também pelo PSL do Rio de Janeiro, referiu-se ao aquecimento global como fruto de “fake news” e compartilhou um link que seria sobre o assunto (atualmente o endereço leva a uma página não relacionada ao tema).
No início deste ano, o então deputado federal Eduardo Bolsonaro gravou um vídeo em meio à neve nos Estados Unidos. Nas imagens, ele citava o presidente norte-americano Donald Trump e os planos de saída do pacto, afirmando que o aquecimento global “é uma farsa”.
Em outro post na mesma rede social, o filho do então pré-candidato ao Palácio do Planalto teorizava: “O termo ‘aquecimento global’ ficou muito cara-de-pau, então convencionaram mudar para ‘mudança climática’, como se a Terra durante toda a sua existência não estivesse em constante mudança. Mas não se engane, as intenções seguem as mesmas”.
A hostilidade aberta preocupa analistas. Para o cientista político Antonio Lavareda, o principal capital de um país que não é potência militar e nem econômica é a imagem. “Há uma consciência global em relação ao ambiente e qualquer postura desafiadora em relação ao Acordo de Paris causaria um arranhão na imagem do Brasil”, afirma.
Acordo de Paris
O Acordo de Paris foi assinado em 2015 por 195 países que se comprometeram a limitar o aquecimento global preferencialmente a até 1,5°C. Por meio desse documento, o Brasil deverá reduzir em 37% suas emissões de gases de efeito estufa até 2025 e chegar a 43% em 2030.
Para o coordenador do Programa de Política e Economia Ambiental do FGVces (Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas), Guarany Osório, o aquecimento global é, sem qualquer dúvida, um problema que afeta a segurança nacional.
“O aumento de temperatura a médio e longo prazos faz com que eventos extremos sejam mais frequentes e severos. A mudança climática afeta a segurança hídrica, alimentar e energética. Desconsiderar isso em política de planejamento é o mesmo que negligenciar riscos futuros”, ressalta o especialista, para quem o Brasil é um ator importante nos processos multilaterais sobre o clima.
Assim que anunciada a vitória de Jair Bolsonaro no segundo turno (no dia 28 de outubro), o Observatório do Clima, uma das ONGs mais importantes sobre ambiente, disse que fará cobranças pelo cumprimento das metas climáticas.
“Abandonar o tratado climático acarretaria em sérios problemas para os interesses econômicos e a imagem do país, que teve momentos de propagandismo na implementação do acordo; provou que era possível reduzir emissões pelo combate ao desmatamento e serviu de exemplo para a comunidade internacional – em 1992, o Brasil sediou a convenção Rio 92”, afirma o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Ritt.
Qualquer nação que sair do acordo terá a relação com a França abalada. Em seu discurso na reunião da assembleia-geral da ONU, em setembro deste ano, o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu a exclusão de acordos comerciais com países que deixassem o Acordo de Paris. Ao parabenizá-lo pela vitória na eleição, o presidente francês falou em “princípios democráticos” e que espera manter a cooperação bilateral no âmbito da “diplomacia ambiental”.
“Sair do pacto significa deixar de cooperar para a solução de problemas que envolvem o aquecimento global, que é uma questão mundial, e o Brasil passaria a ser visto como um problema não só para a França, mas para o mundo”, diz Carlos Rittl. Já o partido do presidente francês, A República em Marcha, chegou a dizer em uma rede social que Bolsonaro é cético em relação ao aquecimento global, homofóbico, sexista e racista.