Quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de setembro de 2018
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) deverá ser eleita como a senadora mais votada de Minas Gerais, fazendo do impeachment o mote de sua campanha. Ela é ajudada pela ausência total de adversários de peso na disputa e por um investimento elevado por parte do PT. Segundo as pesquisas, Dilma aparece isolada em primeiro lugar com quase um terço das intenções de voto. As informações são do jornal Valor Econômico.
Sua provável vitória é encarada como uma espécie de reparação política depois do processo que a tirou do Planalto e que petistas e aliados descrevem como tendo sido um golpe parlamentar.
A campanha é uma das prioridades da legenda. A direção nacional do PT já transferiu R$ 4,05 milhões para a disputa de Dilma em Minas. É mais do que o partido já deu para campanha à reeleição do governador Fernando Pimentel (PT): R$ 3,62 milhões. Pimentel aparece em segundo nas pesquisas, atrás de Antonio Anastasia (PSDB).
Dilma, que está com 70 anos, faz uma campanha relativamente fácil. Reúne-se com plateias amistosas em viagens pelo Estado. Quase não concede entrevistas e não é exposta a debates ou sabatinas. Os demais candidatos ao Senado praticamente não a atacam. Não há menção à sua gestão como presidente, aos desarranjos econômicos e à recessão iniciada em seu governo. Um dos únicos que passaram a criticá-la é Rodrigo Pacheco (DEM), principal candidato na chapa de Anastasia. Na TV e no rádio, os dois aparecem dizendo que ela não conhece as necessidades do Estado e que até pouco antes do início da campanha sequer vivia aqui. O tucano tem dito também que quando foi presidente, Dilma frustrou demandas dos mineiros por recursos para ampliação do metrô em Belo Horizonte, para as obras de duplicação da BR-381, entre outras.
A ex-presidente sustenta seu desempenho na base de votos tradicional do PT em Minas. Ela foi a candidata mais votada no Estado nas duas vezes que disputou a ganhou a Presidência, em 2010 e 2014. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também tinha vencido no Estado em 2002 e em 2006.
No horário gratuito, Dilma tem 1min50s de manhã e à noite, mais 11 spots diários. Desde as primeiras pesquisas de intenção de voto, ela aparece como líder isolada. Na última do Ibope, divulgada no dia 17, Dilma Rousseff apareceu com 28% das intenções de voto. Na do Datafolha, do dia 20, ela tinha 29%.
O segundo mais bem colocado é Carlos Viana (PHS), um jornalista novato na política. Ele tem 15% no Ibope e 14% no Datafolha. Nenhum dos outros 13 candidatos, chega a 10%.
Políticos mineiros não têm dúvida: o único nome que teria prestígio e voto para fazer frente à campanha de Dilma seria o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Mas o flagrante da conversa em que ele negociava R$ 2 milhões com o empresário Joesley Batista no início do ano arruinou os planos do tucano de buscar um segundo mandato como senador. Aécio recalculou seu peso eleitoral e está fazendo uma campanha discreta pelo Estado tentando obter uma vaga na Câmara Federal. São as vagas de Aécio e de Zezé Perrella (MDB) que estão em disputa este ano em Minas.
A campanha de Dilma é calcada no impeachment que lhe tirou do poder em 2016. “Vamos votar para interromper esse golpe e o retrocesso”, gritou ela ao microfone no sábado num palanque armado em frente ao Museu da Inconfidência em Ouro Preto (MG), durante comício com Pimentel e o candidato petista à Presidência, Fernando Haddad.
Sua campanha colocou na internet três vídeos sobre a “História do Golpe”. No horário gratuito e nas viagens que faz pelo Estado, Dilma repete que o processo foi injusto. E que seu sucessor, o presidente Michel Temer (MDB), cortou direitos dos mais pobres, abriu mão de ativos estatais e promoveu reformas prejudiciais ao país. Uma vez eleita senadora, Dilma fala em reverter medidas de Temer, como o teto de gastos e a reforma trabalhista.
Suas promessas, no entanto, talvez mobilizem pouco seu eleitor em Minas. Para Marcos Coimbra, da Vox Populi, empresa de pesquisas de intenção de voto que faz pesquisas periódicas para a CUT e cujos dados ajudam a orientar decisões do PT, Dilma caminha para a vitória embalada pelo que o que ele define como um voto-homenagem. Um voto de uma parte do eleitorado que vota no PT e que não concordou com o impeachment.
A ideia de lançá-la candidata foi de Lula. O assunto foi tratado pelos dois no sindicato em São Bernardo do Campo (SP), pouco antes de Lula começar a cumprir sua pena de prisão.
Minas seria uma frente importante porque é o principal Estado governado pelo PT e onde há uma intensa disputa com o PSDB. Dilma, que é de Belo Horizonte, mas passou boa parte de sua vida em Porto Alegre, transferiu na última hora seu domicílio eleitoral para a cidade natal.