Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 6 de novembro de 2020
Muitas semelhanças ligam a empresária Sandra Bronzina à influencer Mariana Ferrer: ambas vivem em Santa Catarina, frequentavam o Café de La Musique e as duas já “enfrentaram” o advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho em audiência.
O caso de Mari ganhou notoriedade e causou revolta depois que trecho do vídeo do julgamento do homem que ela acusa de estupro em 2018 foi divulgado no início desta semana. Nele, Gastão da Rosa, defensor do acusado, descreve fotos do Instagram de Mariana como “ginecológicas” e chega a dizer, entre outras coisas, que “jamais teria uma filha” do “nível” da blogueira. O acusado foi absolvido.
Sandra contou à coluna Direto da Fonte, do jornal O Estado de S. Paulo, que viveu situação parecida. Em 2005, durante uma audiência judicial, ela também teria sido acuada pelo advogado, que defendia outro acusado de estupro. “Em vez de defender o cliente, ele ataca a vítima, culpabiliza quem sofreu a violência”.
Gastão da Rosa Filho declarou à coluna que nunca atacou Sandra. “No caso dela o réu era confesso! Só o que eu fiz foi trabalhar para diminuir a pena dele, que é o meu papel. Não teria motivo para atacá-la. Inclusive me sensibilizei com a situação na época. É mentira. Essa moça quer aparecer. Ela inclusive chegou a me convidar para ser jurado de um concurso, foi ao meu escritório. E sempre foi cordial comigo, estou surpreso por ela fazer isso agora”.
Com 29 anos, Sandra relatou ter passado por dois grandes traumas. Até os seis, foi abusada rotineiramente por seu pai. A denúncia veio aos 11, depois que Sandra entendeu o que o pai fazia com ela. Aos 13, voltando da escola, foi convencida por um desconhecido a entrar em um carro. Ele prometeu à menina que a ajudaria a convencer a tia a deixá-la participar de um comercial de televisão. Foi estuprada. Meses depois, por meio de um retrato falado, seu agressor foi encontrado, acusado, e, posteriormente, defendido por Gastão.
“Entrei na sala de audiência sozinha, sem a minha mãe. E a primeira coisa que o Gastão fez, olhando bem para mim, foi perguntar se eu já tinha sido abusada pelo meu pai. Queria me desestabilizar, me descreditar”, conta. Neste caso, o advogado perdeu a causa visto a confissão do réu. Mas, segundo Sandra, foi vitorioso na redução da pena imposta por este tipo de crime, alegando que o agressor estava sob efeito de remédios e bebida.
Hoje, Sandra é dona de uma agência de modelos em Balneário Camboriú. E lembra que chegou a reencontrar o advogado, anos depois, em um evento. “Nunca me esqueci dele”, conta ela, que foi até a mesa de Gastão apresentar-se. “Ele me disse que se lembrava de mim e que depois daquilo nunca mais defenderia um acusado de estupro. Eu fiquei tão abalada que fui correndo pro banheiro para vomitar. Quando saí, ele estava na porta e me pediu desculpas”.
Gastão confirmou o encontro e conta que chegou a escrever uma crônica, com o seu ponto de vista, sobre o episódio. “Não tinha me esquecido, e eu muito menos dela, tanto que depois daquele caso nunca mais assumi a defesa desse tipo de crime, ressalvadas as hipóteses em que estava convencido da inocência”, diz trecho do relato, publicado há cerca de três anos no Facebook.
Para ela, casos assim devem pelo menos servir para que a situação das mulheres que sofrem violência mude. “Os trâmites legais têm que ser diferentes. Desde o exame de corpo de delito até a maneira como é dado o depoimento. É como se a mulher tivesse que passar por um segundo trauma”, diz.
Frequentadora do Café de La Musique de Florianópolis, – onde o estupro de Ferrer teria acontecido – Sandra não enxerga os proprietários do local como coniventes com abusos. “Sempre foram muito respeitosos comigo e com as meninas da agência”, diz, ponderando que todas casas devem ter seus cuidados para brecar agressões.
“A mulher tem direito de aparecer o quão sexy ela quiser. Isso não poder ser um sinal verde para o estupro! Nem as fotos que ela publica, nem o local que ela frequenta, nem as roupas que veste”, sentencia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.