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Afeto e compaixão

Talvez o maior desafio que o médico hodierno enfrenta é o de não perder o humanismo diante da fantástica evolução das máquinas nos novos tempos.

A tecnologia invadiu a medicina e, não intencionadamente, desumanizou o médico.

Entre os inúmeros sentimentos que podem ser desenvolvidos na relação médico-paciente, abordarei dois temas que são extremamente importantes: O afeto e a compaixão.

A relação afetiva é desenvolvida desde os primeiros minutos da consulta quando o médico deve demostrar que será o melhor parceiro para resolver a enfermidade ou o mal que atinge o paciente.

Ao invés de ficar olhando no computador, solicitando uma série de exames complementares, não seria melhor ouvir do paciente: Que coisas boas o senhor já fez? Ou faz? Seus hábitos! Conquistas dos filhos! E as peripécias dos netos!?

Muitas vezes o médico poderá entremear relatos pessoais numa demonstração de que também é humano. É necessário regar a relação afetiva.

Mas talvez o maior sentimento que o médico deve desenvolver dentro de si é o da “compaixão”. Esta palavra foi plantada e irrigada dentro no meu peito pelo confrade, mestre e professor, JJ Camargo. A cada conto, a cada encontro, a cada exposição, ele faz com que este sentimento se renove dentro de mim e de nós.

Compaixão é um sentimento onde se entrelaçam o cérebro e o coração. Saber sentir o que o outro está sentindo! Imaginar o que eu estaria sentindo se estivesse no lugar dele! É uma troca de posições! É entender e compadecer diante do sofrimento do outro, mas sem perder o necessário equilíbrio da razão. Realmente é um ensaio artístico que na plateia só tem 2 assistentes: O médico e o paciente!

Camargo um ícone da academia Sul Rio-grandense e Brasileira de Medicina elevou o nome da Santa Casa como referência mundial nos transplantes de pulmão.

Como escritor ira deixar centenas de artigos e vários livros.

Recentemente, após aposentadoria compulsória na universidade, reconhecendo humildemente sua trajetória vitoriosa, exaltou: “Nada pode ser comparável como ensinar aos alunos a arte da medicina e relação médico-paciente” Disse também: “Posso não ter ensinado ninguém a ser feliz, mas de tanto tentar, consegui ser”!

Entretanto ainda, segundo ele gestos simples que demonstram parceria e amizade são extremamente necessários “É preciso gostar de gente!” Também revelou 2 segredos que só os grandes médicos podem sentir: “Como nós nos consumimos quando fracassamos!!” Mas também: “Como vibramos quando conseguimos vencer a doença e salvar vidas”

Hipócrates há 400AC, dizia: “Quando há amor na arte da medicina também haverá amor pela humanidade”.

Ainda, o mesmo grego, na mesma época já alertava: “Vita brevis, ars longa”. A vida é curta, a arte é longa.

Como não somos máquinas, sempre devemos lutar por uma medicina mais humana. Isto é impossível sem afeto e compaixão!!

Carlos Roberto Schwartsmann – Médico e Professor universitário.

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