Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 17 de setembro de 2017
Afinal, qual a marca que Rodrigo Janot deixa após quatro anos à frente do Ministério Público Federal no momento mais crucial da instituição?
Trata-se de uma impressão borrada, cujo real sentido só será conhecido depois que ele passar o bastão a Raquel Dodge. Já escrevi uma coluna, anterior ao imbróglio Joesley Batista, falando da trajetória errática de Janot como procurador-geral da República. Por muito tempo, com a Lava Jato comendo solta, Janot esteve a reboque de seus comandados de Curitiba.
Era uma fase em que tinha de dar explicações para encontros fora da agenda com José Eduardo Cardozo, então ministro da Justiça de Dilma Rousseff, e para uma letargia na persecução de políticos acusados de envolvimento com os desvios do petrolão. Esse mal-estar começou a ceder com a apresentação da primeira “lista do Janot”. Inebriados pela mudança de status de que passou a gozar na imprensa, na opinião pública e nos comandados, Janot foi se travestindo na figura do destemido arqueiro das flechas de bambu, alternando, no entanto, momentos de profícua atividade com outros de estranha letargia.
A celeridade e o rigor demonstrados com as denúncias contra Michel Temer em tudo contrastam, por exemplo, com a falta de pressa em dar um fim ao inquérito contra Dilma e Lula no “quadrilhão” do PT, cuja denúncia só foi entregue agora, num claro movimento para dar “uma no cravo e outra na ferradura”, com o caldo já entornado. E esse caldo foi o da delação megapremiada da J&F. Janot empenhou seu futuro para a história na narrativa do arqueiro que alvejou o presidente durante o exercício do mandato pela primeira vez. Mas esse edifício narrativo ruiu diante das bravatas de Joesley e companhia, que acabaram por revelar um esquema de delação assistida por um de seus braços direitos, o ainda solto Marcello Miller. (Vera Magalhães/AE)