Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 31 de agosto de 2024
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) oficializou nessa semana que a população brasileira em 2024 é estimada em 212,6 milhões de pessoas. Apesar de já esperada e de fazer parte das estimativas divulgadas pelo instituto na semana passada, a projeção causou confusão devido à diferença em relação aos dados do Censo de 2022.
O primeiro número, divulgado em junho de 2023, apontava para uma população de 203 milhões de pessoas em 2022. A última atualização censitária foi feita semana passada, quando o IBGE divulgou que a diferença entre a projeção para 2022 e a contagem do Censo era de 3,9%.
As projeções foram, então, ajustadas para uma população de 210,9 milhões até 1º de julho de 2022. Na ocasião, o IBGE também divulgou a estimativa populacional de 212,6 milhões até 1º de julho de 2024, a mesma publicada no “Diário Oficial” da quinta-feira (29).
Os censos e as projeções têm características diferentes. Enquanto o primeiro é uma contagem de pessoas e domicílios, a única pesquisa que visita todos os locais do País, as projeções englobam outros indicadores, como taxas de nascimento, de mortalidade e de fecundidade. É comum que essas pesquisas passem por revisão, no Brasil e em outros países, mas no caso do Censo de 2022, o que chamou atenção de especialistas foi o tamanho da diferença entre a primeira divulgação e as projeções mais recentes.
Segundo o próprio IBGE, o Censo 2022 foi o que teve maior percentual de ajuste entre a população recenseada e a projeção populacional entre os três últimos, de 3,9%. As taxas foram de 2,2% no Censo 2010 e de 3% no Censo 2000.
Para o economista sênior da LCA Consultores Francisco Pessoa Faria, a discrepância evidencia que o Censo de 2022 tinha mais problemas do que o IBGE admitiu inicialmente. “As diferenças entre o primeiro dado e as projeções atualizadas são uma demonstração de que o Censo de 2022 tinha mais problemas que o IBGE reconheceu na época da divulgação”, disse.
O especialista lembra que o então presidente do IBGE, Cimar Azeredo, disse “ter bastante certeza” do resultado quando foram feitas as primeiras divulgações, em junho de 2023. “Esse número [de 203.062.512 de brasileiros] não vai mudar”, disse Azeredo na época.
O número do Censo, de fato, não passa por revisão. A população continuará sendo de 203 milhões de habitantes em 2022 e esse número será utilizado pelo IBGE para as próximas projeções populacionais até a realização do próximo Censo, previsto para 2030.
Para o economista da LCA, porém, o IBGE deveria ter tratado os resultados de forma mais realista com as condições impostas à realização da pesquisa populacional. “Qualquer pessoa com bom senso saberia que os números preliminares tinham que ser utilizados com muita moderação. O IBGE tinha que ter falado que fez o melhor que deu e faria os ajustes”, defendeu.
Série de problemas
Previsto inicialmente para 2020, o Censo foi adiado por causa da pandemia e passou por uma série de problemas, como cortes orçamentários, falta de recenseadores e a recusa de entrevistados em responder a pesquisa.
O professor aposentado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence), ligada ao IBGE, e demógrafo José Eustáquio Diniz Alves contemporiza que todo Censo tem uma margem de erro, pois o IBGE não consegue visitar todos os domicílios do país. “O que varia é o tamanho desse erro”, observa.
No caso do Censo de 2022, no entanto, a diferença de 3,9% entre a projeção para 2022 e a contagem do Censo foi maior que o percentual considerado adequado pelo demógrafo. “O ideal é que o erro fosse menor, abaixo de 3%. Mas isso não quer dizer que é para jogar o Censo fora”, ressalta.
O especialista também destacou as condições adversas para a realização do Censo 2022 e, apesar dos problemas apontados, elogiou a transparência das revisões dos dados. “Errar não é feio. Feio é esconder o erro. Se o IBGE insistisse que a população é de 203 milhões ficaria desmoralizado porque bases de dados do Ministério da Saúde e de registro civil mostram que não é.”
Estados e municípios
Os dados publicados nessa quinta também trazem projeções para Estados e municípios, informações que orientam a definição dos valores do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e do Fundo de Participação dos Estados (FPE).
Essas estimativas costumam gerar polêmica porque o repasse do fundo de participação depende do contingente da população de cada cidade. Os municípios são classificados por faixas de tamanho e, caso o recuo da população faça uma cidade mudar de grupo, ela recebe menos recursos. Por isso, prefeituras muitas vezes entram na Justiça para evitar mudanças.
São Paulo segue o mais populoso do País, com 11,9 milhões de habitantes, seguido por Rio de Janeiro (6,7 milhões) Brasília (3,0 milhões), Fortaleza (2,6 milhões) e Salvador (2, 6 milhões).