Domingo, 17 de novembro de 2024
Por Tito Guarniere | 21 de dezembro de 2019
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O presidente Jair Bolsonaro – segundo o jornal O Estado de São Paulo – vai expandir e aumentar o valor do Bolsa-Família (BF). Já começou este ano, concedendo o 13°. mês do benefício. Para o ano que vem, além de um reajuste ainda não calculado do valor mensal de R$ 190,00, o programa será ampliado para jovens até 21 anos (hoje vai até 17).
Na oposição, Bolsonaro tripudiava: “Bolsa-Família nada mais é do que tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda, para que use o seu título de eleitor e mantenha quem está no poder”. Era para gente que “pensa com o estômago”.
O Lula da oposição não era diferente de Bolsonaro. Diante dos programas sociais de Sarney e depois de FHC, desafiava: “Temos de acabar com o vale-isso, o vale-aquilo, as coisas que o governo criou para dar às pessoas”. Os benefícios acomodavam as pessoas, e eram apenas “moeda de troca em época de eleição”. Em mais de uma vez chamou os programas sociais de “esmolas”.
No governo, descobriu rapidamente que a moeda de troca tinha um valor inestimável: agrupou todos os programas sociais em um só, ajuntou uns penduricalhos e criou, com enorme sucesso, inclusive eleitoral, o Bolsa-Família.
Era para ser um programa transitório. Mas desse tipo de coisa – só não sabe quem é muito distraído e propenso a ser enganado – uma vez estabelecido, ninguém consegue voltar atrás. Em cada eleição, desde a sua implantação, os emissários petistas percorriam as regiões onde se concentrava o programa, para atemorizar os beneficiários: se o PT perder a eleição acaba o Bolsa-Família. Os candidatos adversários do PT eram obrigados a se desdobrar em negativas, prometendo não apenas a manutenção da benesse, mas a sua ampliação.
O fato é que o Bolsa-Família fideliza os seus destinatários, primeiro para recebê-lo e depois para votar (principalmente) no PT, que o instituiu. O Nordeste, onde se acumula o maior número de famílias beneficiárias, é o mais importante reduto eleitoral do partido.
Mesmo Michel Temer, que não chegou nem perto de ser um governo popular, com o afastamento de Dilma Rousseff através do impeachment, concedeu logo de cara um aumento do BF acima da inflação.
E da mesma maneira que Lula mudou de ideia – os programas sociais se tornaram o carro-chefe de suas realizações (são até hoje) –, Bolsonaro, que é rápido no gatilho para espertezas eleitorais, logo viu que ali, naquele terreno próprio da esquerda que tanto abomina, do PT que tanto ataca, ele poderia intervir e criar sua própria clientela.
Não há nada mais charmoso do que oferecer mimos ao povo com o dinheiro público, fazer bondade com o chapéu alheio. “O mais delicioso dos privilégios é gastar o dinheiro dos outros” (John Randolph, constituinte da Convenção de Philadelphia). Bolsonaro embarcou pressuroso na onda. Como é comum, os governantes do dia fazem igual ao que criticavam nos governos anteriores. O que há de mais parecido com o governo é a oposição quando chega ao governo.
Assim, temos que nada é mais semelhante na “nova política” em curso do que a velha. E que, olhando de perto, Bolsonaro e Lula têm lá suas afinidades e pontos comuns.
titoguarniere@hotmail.com
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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