Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 29 de junho de 2024
A vice-presidente da Moody’s para risco soberano, Samar Maziad, diz que os recentes ruídos gerados por falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não contribuem para o avanço do País rumo à consolidação fiscal. Ela afirma, porém, que é preciso separar “barulho” de “sinal”, e cobra uma ação efetiva do governo em relação ao controle de despesas, algo determinante para o sucesso do ajuste fiscal.
O momento da mudança gerou questionamentos no mercado, uma vez que veio na sequência de maiores temores fiscais no País como, por exemplo, a mudança da meta de resultado primário para os próximos anos. Na ocasião, Maziad disse em entrevista que a agência tomava decisões baseada na visão de médio prazo, que havia melhorado, e não no ciclo de notícias, apesar de ainda avaliar o quadro fiscal no Brasil como “desafiador”.
De lá para cá, o dólar saltou de R$ 5,10 para R$ 5,50, e o Ibovespa cedeu quase 5 mil pontos, para o patamar de cerca de 122 mil pontos. Por sua vez, as taxas dos contratos futuros de juros subiram. Na ponta curta, o avanço acumulado chega a 30 pontos-base (0,3 ponto porcentual), mas na longa – mais importante para a definição dos juros da dívida pública e mais sensível à percepção sobre o risco fiscal – o avanço girou em torno de 50 pontos-base (0,5 ponto porcentual).
Mesmo com a mudança no cenário, a vice-presidente da Moody’s diz que a classificadora não se arrepende de ter melhorado a perspectiva do rating brasileiro. “Sempre tentamos distinguir o ruído do sinal. O motor para as perspectivas é a melhoria do desempenho do crescimento. E, no primeiro trimestre, novamente, tivemos uma indicação de forte expansão (no Brasil). É um importante sinal”, afirma ela, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
Por outro lado, diz, declarações políticas têm gerado “muito ruído” no Brasil em várias frentes e, em especial, na política monetária. “Infelizmente, o ruído afeta os mercados financeiros, os preços dos ativos e isso pode ter efeitos colaterais sobre os custos reais dos empréstimos e a dinâmica fiscal, o que não ajuda”, diz.
Maziad avalia que, a despeito de pressões e da frustração política, o Banco Central agiu e pausou os cortes de juros. Ela não espera que a independência do Banco Central, que deu um passo a mais após a lei de autonomia da instituição, seja revertida com a troca de comando à frente. Na véspera da última decisão, na semana passada, o presidente Lula voltou a atacar o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e, depois, lamentou a manutenção da Selic em 10,5% ao ano.
Consolidação fiscal
Mas, para além do crescimento, o que a Moody’s realmente anseia é uma ação efetiva do governo Lula do lado das despesas. “Queremos ver a consolidação fiscal acontecer”, reforça Maziad. “E um quadro político consistente. Ou seja: se é aprovado um Orçamento e definida uma meta, então serão feitos esforços para alcançá-los”.
Na sua visão, a direção fiscal do governo Lula não mudou, mas é preciso ter clareza de que, sozinho, o aumento de receitas será insuficiente para o ajuste fiscal, e que serão necessárias também ações do lado das despesas. Nesse sentido, avalia, a discussão de potenciais medidas de corte de gastos, que envolvem os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Desenvolvimento, Simone Tebet, é positiva.
“Sinceramente, não vejo mudança de direção. As medidas de receita são bem-vindas, mas as pressões sobre os gastos são definitivamente um fator-chave para ajudar ou prejudicar o resultado fiscal”, diz Maziad.
A perspectiva de um rating tem um prazo médio de 12 a 18 meses. Como no caso do Brasil, uma mudança ocorreu há quase dois meses, Maziad descarta ações no curto prazo. “Não há razão para avançarmos mais rápido do que o horizonte da perspectiva agora”, diz.
O Brasil tem rating Ba2, com perspectiva positiva, e está a dois degraus do grau de investimento pela Moody’s. Quanto à recuperação do selo de bom pagador, Maziad afirma que não há um cronograma definido. “Dependerá do ritmo de redução dos déficits fiscais e de obtenção do resultado primário para começar a estabilizar e, eventualmente, reduzir o peso da dívida. Além disso, garantir que o crescimento permaneça forte no médio prazo”, avalia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.