Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 2 de novembro de 2024
Quase um mês depois de ser desbloqueada, a plataforma X recuperou boa parte do engajamento perdido durante os 39 dias em que ficou fora do ar, mas ainda não retornou ao patamar alcançado no Brasil antes da determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em meio ao descumprimento de decisões judiciais.
Um levantamento da consultoria Bites revela que a rede de Elon Musk registrou média de 6,4 milhões de visitas diárias na quinta-feira (31), após voltar a funcionar no País, em 8 de outubro, com cerca de 971 mil acessos por dia. Antes de entrar na mira do STF, porém, o X mobilizava, em média, 8,4 milhões de visitas diárias no Brasil.
Especialistas avaliam que a migração parcial de usuários, principalmente do campo da esquerda, para redes alternativas e a tomada do X pela direita têm afastado usuários da plataforma, que só voltou a ficar disponível no Brasil após cumprir uma série de condições estabelecidas por Moraes, como o pagamento de R$ 18 milhões em multas, a indicação de um representante legal no País e o bloqueio de perfis investigados por conteúdos antidemocráticos.
Procurado para comentar os números do levantamento da Bites, o X não respondeu. Na avaliação do fundador da consultoria, Manoel Fernandes, a percepção de usuários mais à esquerda de que houve uma “tomada” da rede social pela direita, durante a gestão de Musk, um aliado da extrema direita global, está entre os fatores que explicam o retorno do X em patamar de acessos um pouco mais baixo que o registrado em agosto.
“A esquerda entendeu que o X chegou mais para a direita e pode ter procurado outro lugar para se posicionar”, pontua o diretor da Bites, para quem o retorno de 80% do tráfego ainda assim representa “uma clara tendência de volta” da rede social, que costuma ter impacto e ser marcada pelo debate político.
Um indício da retomada do debate político está nas principais palavras-chaves usadas no X nos últimos 30 dias, ainda segundo levantamento feito pela Bites. Os nomes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aparecem com destaque, assim como o Supremo Tribunal Federal (STF) e São Paulo, capital que protagonizou uma das disputas eleitorais mais acirradas nas eleições municipais deste ano.
Redes alternativas
Durante o bloqueio do X, enquanto a base bolsonarista lançou mão de ferramentas de VPN para continuar usando a plataforma, boa parte dos usuários buscou redes semelhantes, como o Blue Sky e o Threads. Um levantamento feito pela FGV Comunicação e divulgado pelo GLOBO mostrou que as interações em postagens relacionadas à política no X, que se transformou em uma “bolha bolsonarista” com críticas e ataques a Moraes, chegaram a ter queda de 73,5% entre os dias 2 e 17 de setembro, enquanto o Bluesky recebeu 2,6 milhões de novos usuários nos primeiros dias de bloqueio.
O especialista em Tecnologia e Inovação Arthur Igreja explica que o X, antes conhecido como Twitter, formou um nicho específico de usuários desde que foi fundado, em 2006, que se tornou dependente do seu conteúdo diversificado, e geralmente viral, mas também do formato e modelo de funcionamento da rede. Ele pontua, porém, que hoje há facilidade para migrar para outras plataformas, o que contribui para que big tech não tenha retomado a média de acessos diários registrada antes de sair do ar.
A busca por novos espaços, no entanto, também traz alguns desafios, aponta o antropólogo David Nemer, do Departamento de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia. Isso porque, em parte, os usuários não conseguiriam transpor em tão pouco tempo as redes suas bases de seguidores construídas ao longo de anos no X. Outra questão é a dificuldade de capitalizar o conteúdo produzido em plataformas alternativas, o que foi facilitado desde que o antigo Twitter virou X e a rede passou a oferecer formas de monetização a criadores de conteúdo.
Apesar dos entraves, Nemer vê o menor engajamento na rede social na comparação como um sintoma do declínio enfrentado pela plataforma sob gestão de Elon Musk. O X passou por uma queda de usuários após ser adquirido pelo empresário em 2022, quando ainda se chamava Twitter. Especialistas citam mudanças nos algoritmos e o enfraquecimento da política de moderação de conteúdos como possíveis causadores desse impacto negativo.
Segundo o estudo DataReportal, havia uma base de 22,1 milhões de usuários do X no início deste ano no Brasil — cerca de 2 milhões a menos do que em 2023. O levantamento considera o total de pessoas que podem ser impactadas por anúncios na rede. Foi a primeira vez, desde 2019, em que houve um recuo no volume de internautas atingidos.