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Agressividade e humilhação na internet preocupam empresas e pesquisadores.

Campanhas de humilhação na rede muita vezes vêm disfarçadas de justiça, contra supostos autores de delitos graves. Crédito: Reprodução

Duas importantes redes sociais lançaram iniciativas de combate à disseminação de conteúdos ofensivos, um leque que vai do racismo à humilhação pública, em clara admissão de que esse tipo de material tinha atingido um nível preocupante em suas plataformas. O Tumblr deu início à campanha “Post It Forward” (“Publique Isso para o Próximo”, em tradução livre) que incentiva o compartilhamento de boas experiências com quem “está vivendo um momento difícil”, uma óbvia alusão a vítimas de agressões virtuais. A iniciativa conta com o apoio do vice-presidente americano Joe Biden.

Enquanto isso, o Reddit, que chegou a hospedar conversas com trocas de links de fotos íntimas de celebridades no ano passado, se posicionou contra abuso ou assédio na rede e mudou sua política de uso para banir casos do gênero. Não são casos isolados. Em abril, o Twitter também mudou sua política para garantir que mensagens de ódio sejam prontamente reportadas e seus usuários banidos. Além disso, passou a testar um mecanismo que identifica conteúdo abusivo e automaticamente diminui seu alcance. Na época, o fechamento do Secret soou como sinal de derrota diante do mau uso da rede.
Utilizado para mensagens anônimas, o Secret foi acusado de se transformar em um repositório de maledicência e assédio moral, que “não representa a visão que eu tinha quando comecei a empresa”, conforme disse o criador do app, David Byttow, na mensagem em que comunicou seu encerramento.

Para a pesquisadora especializada em questões de gênero, raça e direitos humanos do Internetlab, Natália Neris, as ações das empresas vêm como resultado de uma maior divulgação de casos e mobilização de grupos da sociedade civil preocupados com violação de direitos nas redes.

Para ela, suas respostas “não têm sido consideradas completamente satisfatórias”. Só no Brasil, foram registradas 189,2 mil denúncias relacionadas a crimes e abusos na internet em 2014, segundo números da Safernet, organização de defesa de direitos humanos na rede e que gerencia, em parceria com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos.

Shaming.

Existe uma modalidade de mau comportamento on-line bem mais ambígua e, portanto, mais difícil de coibir. É o “shaming” (expressão derivada de vergonha, em inglês), termo usado para perseguições e humilhações contra pessoas que cometem erros e deslizes ou por questões pessoais.

No site de autopublicação Medium, a lista dos artigos mais lidos foi coroada pelo texto intitulado “Social Shaming”, do escritor Marc V. Calderaro. “Em muitas situações, envergonhar uma instituição é a melhor maneira de driblar a burocracia, mas são bem poucas as situações onde envergonhar socialmente um indivíduo tem recebido repercussões positivas”, escreveu Calderaro.

Se nem mesmo as celebridades escapam da ira dos justiceiros da rede por um eventual comportamento fora do socialmente adequado, quando o erro vem de um anônimo, as consequências podem ser mais devastadoras – e, na maioria das vezes, desproporcionais.

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