Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 20 de julho de 2023
O caso foi apresentado nesta quinta-feira (20) em Brisbane, Austrália
Foto: Rodrigo Nunes/MSConhecido como “o paciente de Genebra”, um homem mostra sinais de remissão do HIV (Vírus da imunodeficiência humana) a longo prazo após receber transplante de medula óssea, um caso individual que abre novas possibilidades de pesquisa para a medicina.
A medula óssea que esse paciente recebeu não possui uma mutação já detectada por cientistas, que consegue bloquear o vírus da AIDS. O caso foi apresentado nesta quinta-feira (20) em Brisbane, Austrália, antes da Conferência da Sociedade Internacional da AIDS que inicia neste domingo (23).
Antes do “paciente de Genebra” , outras cinco pessoas já foram consideradas como provavelmente curadas do vírus da AIDS, após ter recebido um transplante de medula óssea.
Esses pacientes curados tinham uma situação muito particular em comum: sofriam de câncer de sangue e
se beneficiaram de um transplante de células-tronco que renovaram profundamente seu sistema imunológico.
Todavia, em todos esses casos, os doadores apresentavam uma rara mutação, de um gene conhecido como CCR5 delta 32, que previne a entrada do HIV nas células.
Já com o “paciente de Genebra”, a situação é diferente: em 2018, para tratar uma forma de leucemia especialmente agressiva, fez um transplante de células-tronco. Porém, desta vez, o transplante veio de um doador que não portava a famosa mutação CCR5. Vinte meses depois de ter interrompido o tratamento antirretroviral, o vírus continua sendo indetectável em seu corpo.
O paciente é acompanhado pelos Hospitais Universitários de Genebra, em colaboração com o Instituto Pasteur, o Instituto Cochin e o consórcio internacional IciStem.
Seu tratamento antirretroviral foi reduzido lentamente e suspenso em definitivo em novembro de 2021.
As equipes científicas não descartam que o vírus ainda persista, mas consideram que trata-se de uma nova remissão da infecção pelo HIV.
Asier Saez-Cirion, cientista espanhol do Instituto Pasteur da França, que apresentou o caso do paciente de Genebra em Brisbane, disse à AFP que se não há sinais do vírus depois de 12 meses “a probabilidade de que seja indetectável no futuro aumenta significativamente”.
Há algumas possíveis explicações porque o paciente de Genebra permanece livre do HIV, disse Saez-Cirion. “Neste caso específico, talvez o trasplante eliminou todas as células infectadas sem necessidade da famosa mutação”, disse. “Ou talvez seu tratamento imunossupressor, solicitado depois do transplante, teve um papel”, acrescentou.
Sharon Lewin, presidente da Sociedade Internacional de Aids, que celebrou a conferência científica sobre o HIV em Brisbane, disse que o caso era “promissor”.
“Porém aprendemos com os pacientes de Boston que apenas uma” partícula do vírus pode provocar um rebote do HIV, advertiu.
“Este indivíduo em particular deverá ser monitorado rigorosamente durante os próximos meses e anos”, disse a especialista.
Saez-Cirion saliento que o caso também motivou os cientistas a continuarem estudando as células imunes inatas, que atuam na linha de frente da defesa contra vários patógenos.
Já o paciente de Genebra disse que agora “pensa no futuro”.