Air Fagundes acaba de assumir a gestão do CRMV-RS (Conselho Regional de Medicina Veterinária do RS) para os próximos três anos. Com 75 anos, sua trajetória de vida é repleta de curiosidades e riqueza cultural, fruto do seu perfil inquieto e determinado, com particularidades que marcaram seus passos desde o nascimento. Ele conta que o padre que foi batizá-lo, numa capelinha do interior de Uruguaiana, alegou que Air não era nome de santo. Por isso, impôs a sua mãe a inclusão de José no registro batismal, a fim de prosseguir a cerimônia religiosa, aguardada pelos familiares.
Seu currículo é extenso e invejável, tendo passado a maior parte do tempo nos bancos universitários como professor da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), lecionando a disciplina Indústria e Inspeção de Carnes e pesquisando na área da saúde pública. Possui especialização, no exterior (como bolsista OMS), em Controle da Hidatidose, com diversos trabalhos. Destes, um publicado nos Estados Unidos. Foi o único pesquisador que deu atenção à busca, por meio de pesquisa básica e aplicada, de um medicamento que viesse substituir as cirurgias de cisto hidático (hidatidose) em ser humano. Obstinado, lá pelos anos de 1970/1980/1990, tendo como parceiros nas investigações científicas outros médicos veterinários e médicos, por mudar este quadro, perseverança e garra, com poucos recursos para pesquisar, não faltaram no cumprimento de seu propósito no interior gaúcho. Uma caminhada que o promoveu a consultor para o Controle da Hidatidose no Brasil, da Secretaria Estadual da Agricultura do RS e do Ministério da Agricultura – MAPA. Entre outras atividades, hoje é voluntário e um dos criadores do Observatório Social de Porto Alegre – segmento organizado da sociedade civil que contribui com a fiscalização das contas públicas.
Também traz nas veias sangue de escritor e poeta eventual. Uma das suas obras que deverá ser lançada em breve é bastante instigante. Ele relata em um livro sonhos que trouxeram “avisos”, envolvendo pessoas do seu ciclo de relacionamento e pessoas com laços familiares, com mensagens de fatos que estariam para acontecer, mesmo não sendo seguidor da doutrina espírita, mas admirador das obras de Chico Xavier. Nesses sonhos contados no livro, a sensação que tinha era que seu espírito estava viajando pelo espaço, sem poder interagir com as coisas que estava vendo de cima. Testemunhando, apenas. Fortes experiências que Air, ou José Air, para o padre fronteiriço, não quer deixar passar em branco, sublinhando estes acontecimentos em projeto editorial.
No CRMV-RS em seu terceiro mandato, depois de seis anos fora do Sistema CFMV/CRMVs, seus desafios e de seus pares passam pela fiscalização profissional, como não poderia ser diferente. Considerando que é a principal finalidade de todos os conselhos/ordens estaduais de profissões regulamentadas do RS, sempre em defesa dos interesses da sociedade; outro ponto de destaque da sua gestão deverá ser a educação continuada, visando capacitar médicos veterinários e zootecnistas para que venham garantir produtos e serviços de qualidade como querem os consumidores. Para isso, disponibilizando cursos de curta duração e palestras que possam complementar a formação desses profissionais, de formação eclética (generalista) e vindos de uma massificação do ensino superior no Brasil por políticas desastrosas nesse quesito, que deu prioridade a quantidade no lugar de qualidade. Embora tudo isso, o RS não deixa também de formar bons profissionais para o contemporâneo mercado de ocupação para recém- graduados; um terceiro ponto é criar uma aproximação do Conselho com os veículos de comunicação (grande mídia), tornando mais conhecidas as atividades profissionais dos médicos veterinários e zootecnistas, encurtando a distância entre a sociedade e o mercado de trabalho.
Ele diz que considera o momento positivo para as profissões em questão, se levarmos em conta o crescimento do agronegócio e das exportações de alguns produtos de origem animal, assim como do mercado PET, mas, ao mesmo tempo ameaçador em razão de decisões judiciais promovendo a retirada de RTs (Responsáveis Técnicos ) de alguns segmentos dessas atividades econômicas. Em especial nas agropecuárias que vendem medicamentos de uso veterinário que poderão, sem a presença do RT, comprometer a qualidade de vida dos animais, em primeiro lugar, a qualidade de vida do ser humanos e do meio ambiente. Situação que precisa ser revertida com ajuda dos consumidores, considerando a venda indiscriminada que poderá acontecer de antibióticos, anabolizantes, anestésicos etc, pelo uso errado como já é de domínio público. Tudo isso somado, também poderá comprometer, em muito, a qualidade dos alimentos que chegam à mesa do consumidor final.
O Conselho, em seus 46 anos de atividade, já cadastrou 15.682 médicos veterinários e 1.067 zootecnistas, destes, 11.174 médicos veterinários e 487 zootecnistas em atividade. Esta, como já foi dito, é a terceira gestão de Air Fagundes frente o CRMV-RS (Autarquia Federal de Direito Público). Portanto, experiência e conhecimento setorial somam pontos aos seus planos de atuação daqui pra frente. (Clarice Ledur)