Terça-feira, 14 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de abril de 2023
Um tênis, um salgadinho, um game clássico, um smartphone, uma boneca. Todos produtos aparentemente banais. Mas que, agora, estão virando coisa de cinema. Chega às salas brasileiras hoje o filme “Air: a história por trás do logo”, dirigido e estrelado por Ben Affleck, com a trama por trás da criação do tênis Air Jordan, parceria entre Nike e Michael Jordan que revolucionou o marketing esportivo.
Na semana passada, foi a vez de “Tetris” ser lançado no streaming. Com Taron Egerton à frente do elenco, o longa narra como o tradicional game Tetris deixou a União Soviética para conquistar o mundo. Nos próximos meses, o público poderá conferir “Flamin’ hot”, sobre a invenção do salgadinho Cheetos picante por Richard Montañez (Jesse Garcia), um zelador da fábrica da Frito-Lay, e “BlackBerry”, sobre a ascensão e queda do primeiro smartphone do mundo, idealizado por Mike Lazaridis (Jay Baruchel).
Seria a “cinebiografia” de coisas uma tendência? Por que essas histórias, que mostram como uma marca e/ou produto impactou tantas vidas, estão cativando mais a indústria cinematográfica? Afinal, filmes sobre marcas e negócios não são exatamente uma novidade. “A rede social” (2010) foi sucesso de crítica e recebeu três estatuetas do Oscar ao retratar a história por trás do Facebook. “Fome de poder” (2016) conta os bastidores do surgimento do McDonald’s. No ano passado, a série “WeCrashed”, com Jared Leto e Anne Hathaway, abordou o ocaso da startup WeWork. A novidade agora é o foco em produtos e uma certa abordagem nostálgica.
“Air retrata o momento em que o conceito de criar uma marca e associá-la a uma identidade pessoal foi articulado pela primeira vez”, diz Ben Affleck, que só aceitou fazer o filme após conseguir a aprovação de Michael Jordan. “A equipe nada convencional da Nike viu grandeza em Jordan, mas nunca imaginou que um tênis projetado em torno de um único jogador seria o catalisador de uma indústria global multibilionária que estabeleceria um novo padrão de operação.”
O longa é a primeira obra da produtora Artists Equity, criada por Affleck e Matt Damon, amigos de longa data e vencedores do Oscar de melhor roteiro por “Gênio indomável” (1997). No drama, Affleck interpreta o fundador da Nike, Phil Knight, enquanto Damon dá vida ao executivo de marketing esportivo Sonny Vaccaro. A trama se passa em 1984, quando a Nike era uma empresa em dificuldades econômicas e Jordan, um novato nas quadras de basquete.
Um caso um pouco diferente, mas que também envolve um produto muito conhecido, é “Barbie”. O aguardado filme de Greta Gerwig, que reúne Margot Robbie, Ryan Gosling, Helen Mirren, Will Ferrell, Dua Lipa e grande elenco, criou uma história ficcionalizada por trás da boneca mais famosa do mundo.
Ver e comprar
Roteirista da série da TV Globo “Sob pressão” e publicitário, Márcio Alemão lembra que o cinema já foi usado para promover produtos no passado, incluindo armas, como nos filmes “Winchester ‘73” (1950), de Anthony Mann, “Colt 45” (1950), de Edwin L. Marin, e “Magnum 44” (1973), de TedPost:
“Não tenho preconceito nenhum, desde que seja uma história boa e relevante. O que não podemos ter é uma exaltação sem fundamento do produto. Você não pode sair do cinema com a sensação de que viu uma propaganda chata e longa.”
Para ele, não é muito diferente contar a biografia de um produto ou de uma pessoa. Ele lembra que, no caso de histórias sobre indivíduos, também se deve tomar cuidados para não exaltar o personagem de forma desproporcional.
O antropólogo e pesquisador Michel Alcoforado aponta que a transformação de produto em personagem é um reflexo do que anda acontecendo hoje em dia.
“Vivemos um momento marcado pela antropomorfização das coisas, e o cinema agora entra para ajudar nisso. O seu celular não é só mais um celular, ele é quase uma pessoa. Você não sai da sua casa sem ele”, destaca. “Quando penso num filme para contar a história de um produto, estou partindo do princípio de que os produtos nascem, crescem, se reproduzem e morrem, assim como as pessoas.”
Criador do game Tetris, que inspirou o filme homônimo, o engenheiro de computação Alexey Pajitnov conta ter ficado surpreso com a reação do público na primeira exibição do longa, no festival South by Southwest (SXSW), no mês passado, nos EUA.
“Uma surpresa para mim foi ver que o Tetris como um personagem no filme, e as pessoas se relacionam com o jogo e se emocionam vendo isso em cena. Fiquei fascinado”, destaca o russo.
Com “Air” em cartaz nos cinemas e “Tetris” disponível no streaming, o próximo filme sobre produto a estrear no Brasil é “Barbie”, com lançamento comercial marcado para o dia 20 de julho. Também exibidos recentemente no SXSW, “BlackBerry” e “Flamin’ Hot” ainda não têm previsão de exibição no país.