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Mundo Além da Bolívia, outros países da América Latina colecionam golpes frustrados e casos inusitados de mudança de poder

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Militares tomam praça em frente à sede da Presidência em La Paz, na Bolívia. (Foto: Reprodução)

A fracassada tentativa de golpe de Estado na Bolívia na quarta-feira é a mais recente dentro de um longo histórico de casos em que movimentos civis ou militares tentaram tomar o poder à força na região sem sucesso. As cenas inusitadas em La Paz somam-se agora à lista de intentos de intervenção em regimes democráticos americanos.

Casos pitorescos envolvendo tentativas de tomar o poder se acumularam ao longo das décadas na América Latina. De acordo com o jornalista argentino Ariel Palacios, autor do livro “América Latina, Lado B: O cringe, o bizarro e o esdrúxulo de presidentes, ditadores, e monarcas dos vizinhos do Brasil” (Globo Livros), mesmo quando deram certo, algumas coordenações de golpes de Estado renderam histórias peculiares. Relembre casos de golpes que fracassaram na região.

O autogolpe que derrubou Pedro Castillo (Peru, 2022)

Eleito presidente do Peru após uma sucessão de deposições de líderes políticos envolvidos em casos de corrupção, o esquerdista Pedro Castillo assumiu o governo do país cercado de desconfianças. Com pouco tempo no poder, virou alvo também de investigações envolvendo suspeitas de nepotismo, que renderam três pedidos de impeachment em um espaço de 16 meses.

Com pouca articulação política com o Congresso e sob forte pressão, Castillo tentou uma solução arriscada. Em 7 dezembro de 2022, o presidente peruano fez um pronunciamento em rede nacional de televisão anunciando o fechamento do Parlamento unicameral do país e convocando eleições antecipadas. Paralelamente, decretou um “governo de exceção”, toque de recolher e a reestruturação do Judiciário.

“Castillo não conseguiu apoio dos militares, não mobilizou um soldado sequer, não conseguiu apoio de nenhum partido político, nenhum setor da população, nenhum sindicato e nem de ninguém”, afirmou Palacios. “Esse caso recente é bem ilustrativo de como o ‘wishful thinking’, às vezes, pega lideranças políticas ou militares.”

De Hugo Chávez a Juan Guaidó (Venezuela, 1992, 2002 a 2019)

O movimento político iniciado por Hugo Chávez, na Venezuela, tanto foi ator ativo quanto passivo em tentativas frustradas de golpe de Estado no país nas últimas três décadas. O tenente-coronel Chávez teve uma experiência diversa da do presidente Chávez, em um espaço de 10 anos.

Em 1992, o então tenente-coronel de 37 anos liderou militares lotados na cidade de Maracay em uma marcha com destino a Caracas, com o objetivo de derrubar o presidente eleito Carlos Andrés Pérez, alvo de insatisfação por parte das Forças Armadas e de protestos estudantis. Chávez e outros participantes foram presos, mas indultados dois anos depois, com um respaldo político que o levaria a Presidência em 1998.

Como presidente, Chávez se viu na face oposta da moeda quando, em 11 de abril de 2002, o Estado-maior venezuelano anunciou a deposição do líder bolivariano, que ficou sob poder dos militares até o dia 14. O empresário Pedro Carmona assumiu a Presidência interinamente, mas após forte pressão internacional e a ação de militares leais a Chávez, ele foi solto e retomou o poder, com ainda mais força política.

Em 2019, foi a vez do sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, ser vítima de uma tentativa de golpe que não obteve êxito. O então presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, reuniu a oposição e, diante do sufocamento de qualquer dissidência ao chavismo, declarou-se presidente do país, sendo reconhecido pelos EUA e pelo Brasil, além de cerca de 20 países. Embora sem uso de força, a tentativa de tomar o poder foi reprimida pelo governo, e Guaidó precisou deixar a Venezuela, meses depois. Maduro segue no poder e é candidato a reeleição.

Carapintadas (Argentina, entre 1987 e 1990)

Palco da da ditadura mais sangrenta da América do Sul, com números estimados em 30 mil mortos e desaparecidos entre 1976 e 1983, a Argentina enfrentou desafios para manter o regime democrático, após a queda dos militares após o fracasso da Guerra das Malvinas, em 1982. Apesar da pressão popular e da dura derrota na guerra terem forçado a redemocratização no país, um movimento militar que ficou conhecido como Carapintadas tentaram se insurgir contra o governo por quatro vezes, entre as presidências de Raúl Alfonsín e Carlos Menem.

O movimento dos Carapintadas argentinos era formado sobretudo por militares que haviam servido durante a guerra das Malvinas, explicou o jornalista argentino Ariel Palacios. Nos primeiros anos da redemocratização, durante o governo de Alfonsín, as rebeliões militares teriam por finalidade forçar o governo a impor um limite temporal à abertura de processos contra os militares por crimes cometidos na ditadura, e concentrar esses processos no comando militar, sob o argumento de que os praças e oficiais menos graduados apenas seguiram ordens.

Ao todo, foram quatro sublevações. Três durante o governo Alfonsín e a última no governo de Carlos Menem, em 1990. Às vésperas de uma visita oficial do então presidente dos EUA, George Bush, o caso foi considerado um escândalo nacional. No jornal O Globo de 4 de dezembro, a visita de Bush e o fim da rebelião – após confrontos entre militares e os revoltosos – dividiram espaço na primeira página.

Massacre de Albrook (Panamá, 1989)

Em 1989, Manuel Noriega ainda governava o Panamá com mão-de-ferro. No poder há 6 anos, o líder panamenho, que ficou marcado na história por sua ligação com o narcotráfico, o governo de Noriega incomodava setores do país, que começaram a se mover para depor seu chefe de Estado – que por anos gozou de prestígio com Washington.

Uma tentativa de derrubar o governo foi comandada pelo então major das Forças Armadas do Panamá, Moisés Giroldi. Junto a outros militares, Giroldi chegou a capturar o ditador panamenho, mas a ação foi suprimida por forças leais ao governo. O major e outros nove membros das Forças de Armadas foram executados posteriormente, no caso que ficou conhecido como massacre de Albrook.

“Tanquetazo” (Chile, 1973)

Algumas dos golpes frustrados não foram uma derrota completa – foram interrompidos, mas ganharam quase contornos de atos preparatórios para golpes bem-sucedidos. É o caso do Chile, que durante o governo do presidente Salvador Allende, conseguiu impedir uma primeira insurgência, mas não a queda do governo democrático.

O episódio que ficou conhecido como Tanquetazo, aconteceu em 29 de junho de 1973 – pouco menos de três meses antes da tomada do Palácio de La Moneda, que levou o ditador Augusto Pinochet ao poder. Liderados pelo tenente-coronel Roberto Souper, cerca de 100 soldados, apoderados de dezesseis blindados, abriram fogo contra prédios do governo, incluindo o Palácio presidencial e o Ministério da Defesa, em uma insurgência contra o governo, nas primeiras horas da manhã.

Allende não estava no La Moneda. O então comandante do Exército chileno, Carlos Prates, coordenou a contraofensiva, debelando a rebelião por volta do meio-dia. Vinte e duas pessoas morreram e mais de 30 ficaram feridas. Entre os militares que combateram a tentativa de golpe estava Augusto Pinochet, que poucos meses depois lideraria a derrubada do governo, que terminou com o suicídio de Allende.

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