A prefeita de Barcelona, Ada Colau, liderou na quinta-feira (28) uma ofensiva diplomática para angariar apoio internacional ao plebiscito catalão de independência, previsto para o domingo (1º).
As manobras surpreendem, pois ela vinha mantendo um discurso contraditório. Ora apoiava a consulta, ora se recusava a pôr o aparato municipal à disposição daquela. Colau deve votar branco ou nulo.
Seu partido, o Catalunha em Comum, votou em julho contra a realização do plebiscito. A sigla tem origem em movimentos pelo direito à habitação, no contexto da severa crise financeira de 2008.
Na quinta-feira, Colau publicou um artigo no jornal britânico “Guardian” pedindo a intervenção da Comissão Europeia (braço executivo da UE) na disputa entre a Catalunha e o governo central espanhol, sediado em Madri. Barcelona é a capital catalã.
No texto, ela escreve que estão em risco “os direitos e liberdades fundamentais” e insiste na necessidade de um espaço de mediação.
Colau também escreveu a prefeitos de capitais europeias para transmitir a sua “preocupação pela gravidade dessa situação”, segundo o jornal “El País”. A prefeita disse que a questão catalã se tornou a crise territorial mais grave da União Europeia.
A Comissão Europeia, por sua vez, tem mantido silêncio sobre a questão, ainda encarada como disputa interna.
A Catalunha, região espanhola com algum grau de autonomia (tem polícia e Parlamento próprios), quer se separar por completo do país — razão do plebiscito.
Uma das justificativas é que o território possui economia dinâmica e poderia ser mais forte sozinho, já que contribui com 20% do PIB espanhol, de cerca de US$ 1,2 trilhão.
A reivindicação catalã por independência é antiga e teve especial força nos anos 1930. Mas a causa é eclipsada, na Europa, pela memória recente de outro separatismo espanhol: o basco.
Militantes do País Basco, no nordeste, lutaram durante décadas por sua independência, negada pelo Estado em Madri.
A milícia separatista ETA, formada no fim dos anos 1950, foi responsável pela morte de mais de 800 pessoas durante longos anos de atividade na Espanha e na França, com sequestros e ondas de ataques a bomba.
Essa organização foi progressivamente desmontada pela ação policial espanhola e, neste ano, anunciou seu desarmamento definitivo de maneira unilateral.
Mas o País Basco tem hoje algum grau de autonomia, com seu próprio Parlamento, assim como a Catalunha.
Essas concessões são resultado de acordos estabelecidos na transição democrática, após a morte do ditador Francisco Franco em 1975.
A determinação catalã atual em se separar da Espanha vem da sensação de sua classe política de que esses arranjos não são suficientes e devem ser substituídos pela independência total.
Outras regiões na Europa tentaram, com graus de sucesso variados, separar-se do poder central.
O melhor exemplo é a Escócia, que hoje é parte do Reino Unido. Os escoceses votaram em 2014 por sua independência, mas separatistas foram derrotados por 55% da população, que preferiu continuar com Londres.
As consultas na Catalunha e na Escócia são bastante diferentes, em especial porque o governo britânico havia permitido o voto e a decisão poderia levar à separação. ILEGAL Já Madri diz que o referendo catalão é ilegal —contraria inclusive uma decisão do Tribunal Constitucional.
Ou seja, ainda que o Parlamento catalão declare a independência após o voto, ela não terá valor legal. É possível que Madri reaja revogando a autonomia catalã e prendendo o seu presidente, Carles Puigdemont.