Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 11 de junho de 2024
Embora a discussão acerca do aspartame ainda esteja em curso, outros itens são relacionados ao câncer de forma mais consistente.
Foto: FreepikEm julho do ano passado, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), tomou uma decisão sobre um ingrediente comum em produtos zero açúcar e em casas de todo o planeta: incluiu o adoçante artificial aspartame na lista de itens “possivelmente cancerígenos”.
A categoria, chamada oficialmente de 2B, diz respeito a itens cujas evidências apontam uma relação com tumores, porém de forma limitada tanto em estudos com animais, como em humanos. A medida pode surpreender, mas a classificação da Iarc engloba também uma série de outros alimentos comuns da rotina, como até mesmo as carnes vermelhas e as processadas.
Mas afinal, o aspartame é cancerígeno? Quais outros itens podem aumentar o risco de uma doença oncológica? E quais os limites considerados seguros de ingestão? Em relação ao aspartame, a autoridade da OMS aponta que os poucos estudos encontraram uma possível relação com carcinoma hepatocelular, um tipo de tumor no fígado.
Porém, na avaliação de risco, que estabelece o real perigo para o consumidor, o Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares da OMS e da Organização para Agricultura e Alimentação (FAO) decidiu eles não são suficientes para alterar o limite de consumo diário considerado seguro, de 40 mg por kg de peso corporal.
No entanto, especialistas apontam que há motivos para reduzir sim a substância, já que ela se mostrou não ser tão inofensiva quanto se pensava ao ser descoberta, nos anos 60. O Instituto Nacional do Câncer (Inca), por exemplo, em nota técnica publicada após a decisão da OMS, defendeu “evitar o consumo de qualquer tipo de adoçante artificial”: “é imperioso avaliar com cautela a utilização dessa substância”.
“A maioria dos estudos são em modelo animal, porque não podemos testar diretamente o efeito do consumo em humanos. Os trabalhos que temos (com humanos) são observacionais, mas apontaram de fato uma associação. Sabemos que os estudos em modelos animais usaram doses muito altas, mas como não podemos replicar em humanos é difícil estabelecer a quantidade exata que seria de fato segura. Então o ideal é evitar, especialmente se você tem outros fatores de risco”, recomenda Andrea Pereira, médica nutróloga e membro do Comitê Multiprofissional da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Carnes vermelhas e embutidas
Embora a discussão acerca do aspartame ainda esteja em curso, outros itens são relacionados ao câncer de forma mais consistente. O Inca, em suas orientações de prevenção, destaca cinco deles: as carnes vermelhas, as carnes embutidas, os ultraprocessados de modo geral, o álcool e o consumo de bebidas muito quentes.
A carne vermelha, como de boi, porco, cordeiro e bode, presente de forma tão significativa no prato da população brasileira, pode surpreender. A Iarc, da OMS, classifica o alimento na categoria 2A, como “provavelmente cancerígeno”. Isso quer dizer que há evidências mais robustas, especialmente entre animais, neste caso relacionando o alimento a tumores colorretais, de pâncreas e de próstata.
Segundo o Inca, o alimento é rico em nutrientes importantes, como vitaminas e minerais, porém ele conta com uma forma do ferro chamada de heme, derivada das hemácias e das células musculares, que, em excesso, aumenta o risco de câncer. Por isso, tanto o instituto brasileiro, como o Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer Internacional, sugerem limitar o consumo a 500g por semana, o que é equivalente a cerca de três porções.
Porém, de forma mais preocupante, enquadrados no grupo 1 da tabela da Iarc, de itens comprovadamente cancerígenos, estão as carnes embutidas ou processadas, ligadas a cânceres colorretais e de estômago. Alguns exemplos são presunto, salsicha, linguiça, bacon, salame, mortadela e peito de peru.
Nesse caso, não há recomendação de limite considerado seguro – o consumo deve ser evitado ao máximo. O mesmo é orientado em relação a alimentos ultraprocessados de forma geral, aqueles produtos prontos para consumir ou aquecer, geralmente embalados, como lasanhas, salgadinhos, biscoitos, alimentos do tipo fast food, bebidas açucaradas, entre outros.