Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 9 de outubro de 2023
O efeito do medicamento no estômago reduz a velocidade da digestão da comida.
Foto: ReproduçãoMedicamentos com mecanismo de atuação do Ozempic, que estão cada vez mais populares devido ao efeito na perda de peso, aumentam o risco de certos problemas gastrointestinais graves, incluindo a paralisia estomacal. É o que aponta um grande estudo publicado ontem na revista científica Journal of the American Medical Association (JAMA), uma das mais prestigiadas no mundo.
O trabalho analisou a classe de medicamentos chamada de agonistas do GLP-1 a partir dos princípios ativos semaglutida e liraglutida, que inclui as marcas Ozempic, Wegovy, Rybelsus e Saxenda – todas da farmacêutica Novo Nordisk e aprovadas para uso no Brasil pela Anvisa. O Mounjaro, da Eli Lilly, que foi autorizado recentemente pela agência sanitária, não fez parte do estudo, mas tem ação semelhante por ser também agonista do GLP-1.
Na análise, a taxa de efeitos colaterais graves foi comparada com uma outra classe de medicamentos utilizados para perda de peso, a bupropiona-naltrexona. Os resultados indicaram que os agonistas do GLP-1 são associados a um risco quatro vezes maior de paralisia estomacal, um risco nove vezes maior de pancreatite (inflamação do pâncreas) e um risco quatro vezes maior de obstrução intestinal.
Essas condições foram raras, porém podem causar hospitalização e necessidade de cirurgia, dependendo da gravidade. “Dado o uso generalizado desses medicamentos, esses efeitos adversos, embora raros, devem ser considerados pelos pacientes que consideram usá-los para perda de peso”, disse Mohit Sodhi, principal autor do estudo e pesquisador de medicina da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, em comunicado.
“A estimativa do risco irá variar dependendo se o paciente está usando esses medicamentos para diabetes, obesidade ou apenas para perda de peso geral”, acrescentou. “As pessoas que são saudáveis podem estar menos dispostas a aceitar estes efeitos adversos potencialmente graves”.
Os agonistas do GLP-1, originalmente desenvolvidos para tratar o diabetes tipo 2, ganharam popularidade nos últimos anos como meio de perda de peso, especialmente com uso off-label (diferente daquele presente na bula). É o caso do Ozempic.
Já o Saxenda e o Wegovy foram aprovados diretamente para perda de peso no tratamento da obesidade. Os pesquisadores responsáveis pelo estudo, no entanto, apontam que os ensaios clínicos usados para lhes dar o sinal verde envolveram poucos participantes e em pouco tempo de acompanhamento. Por isso, pode não ter detectado essas eventualidades muito raras, explicam.
Segundo o epidemiologista e coautor do trabalho na JAMA Mahyar Etminan, o novo estudo foi o primeiro a examinar a questão em maior escala. A análise incluiu pacientes com histórico recente de obesidade, mas excluiu aqueles com diabetes ou que receberam outro medicamento antidiabético.
Pouco mais de 5, 4 mil registros foram incluídos na análise final. “Os resultados deste estudo destacam a importância de os pacientes terem acesso a estes medicamentos apenas por meio de profissionais médicos de confiança e apenas com apoio e monitorização contínuos”, enfatizou Simon Cork, professor sênior da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido, que não participou na investigação.
Princípio ativo
A semaglutida, princípio ativo do Ozempic e do Wegovy, é uma substância que simula um hormônio do corpo chamado GLP-1, que atua em diversos receptores pelo organismo. No cérebro, ativa a sensação de saciedade. No estômago, reduz a velocidade da digestão da comida. Esses mecanismos fazem com que o indivíduo sinta menos fome e perca peso. É a mesma forma de ação da liraglutida, presente no Saxenda.