Sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de fevereiro de 2025
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes disse ter identificado um juiz do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que passava informações sobre a localização dele para dois integrantes das Forças Especiais do Exército, os chamados “kids pretos”, que planejavam prender e assassinar Moraes. A informação consta da delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). O documento teve o sigilo derrubado na quarta-feira (19).
Em um dos depoimentos da delação, Cid diz a Moraes que não sabia o motivo pelo qual o ministro era monitorado porque, conforme é praxe nas operações das Forças Armadas, havia a compartimentalização de informações. Ele afirma que o coronel o Exército Marcelo Câmara, outro ex-assessor de Bolsonaro, conseguia obter as informações sobre os deslocamentos e a agenda de Moraes com um “ministro” do TSE.
Moraes, então, o corrige: “Não é um ministro, é um juiz que nós já identificamos”. Ele não revelou a identidade do magistrado durante o depoimento no dia 21 de novembro do ano passado. Sete dias depois, no entanto, o ministro do STF abriu uma investigação criminal contra Sandro Nunes Vieira. Ele foi afastado do cargo de forma preliminar pelo corregedor-nacional de Justiça Mauro Campbell, decisão que foi mantida pelo plenário do Conselho Nacional de Justiça. O processo disciplinar segue tramitando em sigilo no órgão.
Segundo Cid, além de fornecer informações sobre a rotina de Moraes, o juiz também ajudava as Forças Armadas a elaborar petições à Justiça Eleitoral para pedir informações sobre as urnas.
“Um dos contatos dele [Marcelo Câmara] era um juiz, eu não sei dizer a função, mas um juiz do TSE. Inclusive, era ele que auxiliava as Forças Armadas a redigir os documentos que o general Paulo Sérgio encaminhava pro senhor [Alexandre de Moraes]. Ele mais ou menos que dizia: vai nessa linha, escreve isso aqui. Mas eu não sei efetivamente o nome dele”, disse Cid.
Segundo o depoimento dele, Moraes foi monitorado primeiro a pedido dos kids pretos Rafael Oliveira e Hélio Ferreira Lima. Os dois são apontados pela PF como participantes da operação “Copa 2022″, que pretendia prender e assassinar o ministro do STF.
Ás vésperas do Natal, Bolsonaro também ordenou o monitoramento de Moraes. De acordo com Cid, o ex-presidente havia recebido a informação que o vice-presidente Hamilton Mourão estava se encontrando com Moraes em São Paulo.
Cid afirmou que não sabia de outros motivos para que o ministro do STF fosse monitorado. “Eu não tinha noção de que podia ser algo grave assim de sequestro, assassinato ou, sei lá, até que ponto eles poderiam chegar”, disse o ex-ajudante de ordens no depoimento a Moraes.
Na terça-feira, a Procuradoria-Geral da República denunciou Jair Bolsonaro, Marcelo Câmara, Rafael Oliveira, Hélio Lima, Mauro Cid e outras 28 pessoas. Os crimes imputados contra eles são: organização criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano ao patrimônio da União, entre outros.
Em nota divulgada na noite de terça-feira, a defesa de Jair Bolsonaro rebateu a denúncia da PGR chamando-a de “inepta”, “precária” e “incoerente”. Os advogados do ex-presidente também alegam que a denúncia é baseada em um acordo de colaboração “fantasioso” de Cid.
O posicionamento de Bolsonaro também afirma que, “a despeito dos quase dois anos de investigações, (…) nenhum elemento que conectasse minimamente o (ex-) presidente à narrativa construída na denúncia foi encontrado”. (Estadão Conteúdo)