Domingo, 12 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de janeiro de 2021
Alçado ao cargo há dois anos sob o mote da renovação, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), termina o mandato como um articulador político típico, reconhecido por governistas e oposicionistas como alguém que conseguiu conciliar diferentes interesses, inclusive na distribuição de emendas parlamentares. Ao mesmo tempo, frustrou a expectativa de parte dos integrantes do Muda Senado, formado por cerca de dez senadores – o grupo teve papel relevante na eleição de Alcolumbre em 2019, mas agora o acusa de fisiologismo.
Sondado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir um ministério, o presidente do Senado dá sinais de que pretende continuar na Casa, possivelmente no comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ou outro colegiado, de acordo com aliados. O seu desempenho na articulação política chamou a atenção do Planalto e também é elogiado pela maioria dos senadores.
Em praticamente metade da gestão, Alcolumbre teve que lidar com a pandemia, que prejudicou os trabalhos da Casa, com a paralisação de diversas comissões. Ao mesmo tempo, passou os últimos meses do mandato focado na tentativa de liberar a sua reeleição junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ajudar o irmão a vencer a disputa pela prefeitura de Macapá (AP), mas saiu derrotado nos dois casos.
Entre suas principais conquistas, o presidente do Senado lista a aprovação do Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus, das Medidas Provisórias do auxílio emergencial aos trabalhadores informais e a proposta que liberou recursos para a compra de vacinas contra a Covid-19. Na área econômica, ele cita a votação da reforma da Previdência, do Marco Legal do Saneamento e da autonomia do Banco Central.
Sobre a sua proximidade com o Palácio do Planalto, Alcolumbre disse que é uma relação marcada por duas vias: “Fica claro, então, que a busca por protagonismo não se deu em detrimento da governabilidade, ou das políticas sociais do Poder Executivo. Foi complementar. Uma mão ajudou a outra, mas, para que isso acontecesse, as duas deveriam estar livres, e foi isso o que aconteceu”, declarou por meio de sua assessoria.
Alolumbre também minimizou eventuais críticas da população, dizendo que é preciso “saber diferenciar o que é sinal do que é ruído”. E reforçou que atuou como uma “ponte de consensos” para evitar que crescessem posições mais radicais em momentos de acirramento.
De acordo com integrantes do Senado, ele conquistou apoio de diferentes correntes porque, em parte, soube contemplar todos na distribuição de recursos, inclusive a oposição. Um dos exemplos é que ele concentrou os R$ 2 bilhões de emendas de relator que couberam ao Senado.
Em setembro, nas redes sociais, o líder do PT, Rogério Carvalho (SE), agradeceu diretamente Alcolumbre pela destinação de R$ 200 milhões em emendas ao seu estado.
“Para conquistar esses R$ 200 milhões para recuperação de rodovias de Sergipe, não precisei estar na base aliada de Bolsonaro ou abrir mão de minhas convicções. Consegui porque tenho uma construção sólida dentro do Senado, ao qual o povo sergipano me escolheu para bem os representá-los. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, foi muito solidário ao nosso pleito e acompanhou toda a negociação e entendimentos técnicos para efetivar a liberação”, escreveu Carvalho na época.
O senador Lasier Martins (Podemos-RS), que faz parte do Muda Senado e virou adversário de Alcolumbre na Casa, disse que o presidente do Senado “teve uma atitude fisiológica”.
“Ele reivindicou junto ao presidente Bolsonaro uma liberação de verbas para os estados e municípios a pretexto de socorrer a pandemia, só que ele obteve essa verba, fez escolhas seletivas, discriminatórias, escolhendo os senadores para quem distribuiu. Ele escolheu o grupo que garantiria a sua recondução”, diz Lasier.
Sua gestão também desagradou ao Muda Senado por ter barrado a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Judiciário.
“A principal característica da gestão do Davi foi o personalismo. A pauta da Casa e todas as decisões foram submetidas aos objetivos pessoais do presidente. Isso se refletiu em uma relação fisiológica com o Executivo”, criticou Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
O senador Ciro Nogueira (PP-PI), por sua vez, avalia que a gestão de Alcolumbre trouxe “estabilidade e diálogo ao Senado”. O parlamentar reforça o sentimento de que, caso tivesse a reeleição autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente do Senado teria sido reconduzido: “Se ele (Alcolumbre) tivesse direito à reeleição, estaria reeleito hoje com mais de 70 votos, porque ele se tornou praticamente unanimidade. Não me lembro de outra gestão com tanta aprovação”.
Outro ponto marcou a gestão de Alcolumbre: o Conselho de Ética da Casa, comandado por um correligionário de Alcolumbre, o senador Jayme Campos (DEM-MT), está parado desde setembro de 2019 – há na fila casos que envolvem o o senador Flavio Bolsonaro (Republicanos-RJ), denunciado pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) pela suposta prática de “rachadinha” quando era deputado estadual.
Outro processo que foi praticamente ignorado é o do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), que foi flagrado com dinheiro na cueca em outubro do ano passado. Além disso, mesmo após o afastamento, o seu cargo está vago há três meses, e os suplentes nem sequer foram convocados.