Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cobram uma atitude da Executiva nacional da legenda em relação ao senador Romário (PL-RJ), que nas eleições em cidades do Rio anunciou apoio a candidaturas que concorrem diretamente com alguns dos seus correligionários. Romário declarou votos em Eduardo Paes (PSD), que tenta se reeleger na capital fluminense contra Alexandre Ramagem (PL), e apoia Rodrigo Neves (PDT) em Niterói, município em que o PL tem Carlos Jordy como candidato à prefeitura.
Nas duas cidades, o ex-jogador é associado a indicações para cargos públicos. Tanto Ramagem quanto Jordy foram escolhidos diretamente por Bolsonaro e concorrem em colégios eleitorais considerados “estratégicos” para o PL, já que o Rio é o berço do bolsonarismo e eventuais derrotas seriam simbólicas.
Líder do PL na Câmara dos Deputados, Altineu Côrtes diz que o assunto será discutido no partido e define o que o senador faz como “infidelidade partidária”. Pessoas próximas à cúpula do partido asseguram que Romário será chamado para conversar sobre as decisões do partido com o presidente nacional da legenda, Valdemar da Costa Neto. Outros caciques do PL também se mostraram contrariados com as decisões individuais do senador.
“Romário comete, sim, infidelidade partidária. Ele não deveria dar apoio a candidatos que não sejam do PL. O diretório do Rio fez de tudo para que o Romário se reelegesse senador e, por isto, ele deveria apoiar Ramagem e Jordy. Esse assunto vai ser discutido internamente no PL, sim, tanto no Rio quanto em Brasília. O que o Romário faz é inadmissível”, afirma.
Candidato em Niterói, Carlos Jordy, que chegou a ser líder da oposição na Câmara, diz “nunca ter contado com o apoio de Romário”. No município, o ex-jogador de futebol declarou apoio a Rodrigo Neves (PDT).
“Com certeza esse apoio é fruto de mais um acordo para tentar vencer a eleição ampliando a máquina pública com mais uma secretaria loteada. Nunca contei com esse tipo de ‘apoio’.”
Filho mais velho de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), diz que a situação é “constrangedora”. Ele lembra, entretanto, que Romário já estava no partido antes da chegada da família Bolsonaro e garante que o partido passará por uma “renovação” em breve, na qual permanecerão aqueles que estejam de acordo com os valores bolsonaristas.
“É óbvio que o Romário já assumiu compromissos com os candidatos que apoia, o que é ruim para o PL. É claro que sempre esperamos que nossos parlamentares apoiem os nossos candidatos. Não acho que seja um caso imediato de punição, mas quem não se sente confortável no PL, em breve, buscará outra casa, já que os nossos quadros terão que se alinhar aos nossos princípios”, diz.
O senador não quis se manifestar. Em meio às críticas, entretanto, ele fez uma publicação em suas redes sociais que foi associada ao caso: “É muito palpite, é muito ‘mimimi’ e ninguém é exemplo de porra nenhuma”, escreveu.
Acostumado a pressões que vinham das arquibancadas na época de jogador e com o assédio de vários clubes pelo seu passe, Romário vê o PSD – partido de Paes – abrir as portas para uma possível troca de legenda. Para cargos majoritários (presidente, governadores, prefeitos e senadores), a alteração partidários não afeta mandatos.
Um dos nomes mais próximos de Paes e da Executiva nacional do PSD em Brasília, o deputado Pedro Paulo (RJ) diz que as portas do partido estariam abertas para o parlamentar.
“Seria um luxo (a ida de Romário para a legenda). O PSD cuidará do Senador Romário igual o Cruyff (lendário jogador e treinador holandês) cuidou do jogador no Barcelona. Aqui ele escolhe camisa, treina quando quiser e tá liberado para o Carnaval”, afirma.
Cargos na jogada
O apoio de Romário à campanha de reeleição de Eduardo Paes (PSD) para a prefeitura do Rio gerou mal-estar no partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, que tem Alexandre Ramagem como seu candidato. De acordo com membros do PL, Romário comunicou à Executiva Nacional da legenda há cerca de um mês que não apoiaria o candidato bolsonarista e, por isto, deixou de ser convidado para atividades de campanha de Ramagem.
A decisão fez com que crescesse a antipatia dos membros da família Bolsonaro ao ex-jogador de futebol, que o veem como “desgarrado” dos valores bolsonaristas. Neste momento, a ala mais próxima ao clã Bolsonaro não mantém nenhum contato com o senador. Romário, entretanto, conduz seus diálogos com o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto.
Como pano de fundo para a opção por Paes, estariam indicações e cargos na prefeitura do Rio. Influente na Secretaria da Pessoa com Deficiência, Romário teria sido decisivo, por exemplo, na escolha de Helena Werneck para o comando da pasta. Na pasta, a ex-mulher de Romário também está lotada. Danielle Favatto Grijó Costa, mãe de uma das filhas do ex-craque, ocupa um cargo em comissão desde agosto de 2021. No último contracheque disponível no portal da prefeitura, ela recebeu remuneração de R$ 5.652,50.