Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 18 de setembro de 2022
Dieta da lua, chá emagrecedor, proibição de carboidratos. A psicóloga Juliana Pessoa Ramos, de 36 anos, havia testado muitas fórmulas para emagrecer, mas nunca tinha conseguido um resultado satisfatório e consistente. “Sempre sofri com o efeito sanfona, ansiedade e compulsão alimentar. Mas os nutricionistas nunca me perguntaram nada sobre isso, só me passavam um cardápio para seguir. Eu entrava num ciclo ansioso ao precisar cumprir uma meta de peso até a próxima consulta, o que levava a me render à compulsão”, conta.
Há dois anos, no entanto, ela conheceu sua atual nutricionista, que trabalha com a abordagem da alimentação intuitiva, e sentiu diferença. “Ela não proíbe o consumo de nenhum alimento e não foca o peso corporal. A consulta é leve e sem ‘terrorismo’.”
Juliana não ficou supermagra como sonhava, mas afirma que hoje está em paz com a comida e com o seu corpo, com um peso saudável e estável. “Aprendi a me relacionar com os alimentos, a ouvir o que o meu corpo realmente quer. Como de tudo, com consciência, responsabilidade. Alguns dias eu como salada, em outros como pizza, com zero culpa”, conta ela, que atualmente frequenta bares e festas sem sofrimento, mas se planeja para não extrapolar.
Priscila Monomi, a nutricionista que atende Juliana, acredita que a “mentalidade de dieta”, que promove o sacrifício para obter resultados em curto prazo, não promove o bem-estar físico e mental das pessoas.
“A alimentação intuitiva foca no relacionamento de paz com a comida. Quanto mais conectados estivermos com nossos sinais de fome e saciedade, melhor é a nossa saúde. O peso é uma das consequências positivas dessa relação”, diz.
Autoconhecimento
A abordagem da alimentação intuitiva (intuitive eating), criada nos anos 1990 por duas nutricionistas norte-americanas, dá permissão para que cada pessoa coma o que quiser, sem restrições, mas mediante autoconhecimento, atenção às emoções e aos sinais de fome e saciedade.
Essa e outras abordagens, modelos e metodologias “não dieta”, com foco na mudança de comportamento, começaram a ser adotadas no Brasil na última década, mas ainda são pouco conhecidas pela população em geral, que prefere soluções “milagrosas”, dizem especialistas.
“Infelizmente, as faculdades de nutrição ainda formam pessoas para calcular calorias da dieta e o nutricionista virou um profissional do emagrecimento. Isso é triste”, diz a nutricionista e pesquisadora Sophie Deram. Segundo ela, as dietas restritivas, que deixam as pessoas passarem fome ou eliminam grupos alimentares, podem trazer resultados rápidos, mas a longo prazo não funcionam, pois as pessoas voltam ao peso anterior – ou mais alto.
“Você nunca sai igual de uma dieta, que mexe com o seu apetite e metabolismo. O cérebro vai pedir por mais alimento, sem contar que quando você é proibido de comer algo fica pensando nisso o dia inteiro. Isso resulta no efeito sanfona, que é prejudicial à saúde”, diz. No atendimento, Sophie coloca o paciente como o protagonista de sua alimentação. “Ele vai aprender a dirigir o seu barco.” Segundo ela, pessoas com qualquer patologia podem se beneficiar da abordagem nutricional.
Paciente de Sophie desde 2015, a coach de carreira Flavia Gisela Wahnfried, de 46 anos, conta que teve dificuldade, no início, de praticar a alimentação intuitiva. “Eu estava extremamente condicionada a seguir fórmulas, receitas e quantidades. Havia perdido a conexão com o meu corpo, com a minha sensação de fome e de saciedade. Por muitos anos fiz dietas frustradas e estava cansada de não conseguir atingir e sustentar um peso saudável.”
Flavia percebeu que quanto mais restritiva era a dieta, mais tinha episódios de comer em excesso, o que a levava a ganhar peso novamente. Ela foi encorajada por Sophie a escolher as refeições a partir de suas preferências, priorizando ingredientes naturais. Com isso, chegou a um peso satisfatório, que não oscila.
Gentileza
Tratar a si próprio com gentileza é uma das premissas da alimentação intuitiva, afirma a nutricionista Marle Alvarenga, fundadora do Instituto de Nutrição Comportamental. “Uma pessoa que não é compassiva consigo mesma acaba se punindo só porque comeu um alimento um pouco mais gorduroso, sem olhar o contexto. A culpa gera estresse, que interfere na sensação de fome e saciedade”, ensina.
Para promover essa autocompaixão, o nutricionista comportamental pode valer-se de terapias cognitivas comportamentais, que utilizam ferramentas como um diário alimentar, no qual o paciente escreve aquilo que come, onde, quando e os sentimentos e sensações do momento, exemplifica Marle.
O nutricionista que trabalha com a alimentação intuitiva pode atuar em parceria com um psicólogo. “Há pessoas que não encontram outras possibilidades para lidar com as emoções que não seja pela comida”, explica a psicóloga Mariana Esteves Shnaiderman. No seu consultório, ela ajuda o paciente a reconhecer as emoções e a desenvolver repertório para lidar com elas.