Terça-feira, 14 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de janeiro de 2025
A primeira turma de mulheres que podem se alistar nas Forças Armadas do Brasil tem um perfil inspirador: elas são destemidas e sabem da importância da representatividade feminina para tornar os espaços mais democráticos. A crença de que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica são fontes de estabilidade financeira também pesa na decisão pelo alistamento, mas o foco delas mesmo é mostrar que quando o assunto é servir ao País, força e pensamento estratégico independem do gênero.
Somente nos primeiros sete dias de janeiro, semana em que iniciaram as inscrições para as Forças Armadas, mais de 15 mil jovens que vão completar 18 anos em 2025 se alistaram voluntariamente na esperança de serem convocadas. O número é dez vezes maior que a quantidade de vagas disponíveis — são 1.465 vagas em Brasília (DF) e em outros 28 municípios de 13 Estados.
Assim que soube, no ano passado, sobre a possibilidade de se alistar, a estudante Manuella Ribeiro não pensou duas vezes. O sonho de ingressar em uma das Forças é regado desde criança, inspirado no avô que serviu à Marinha por décadas. Na expectativa de começar a carreira militar o quanto antes, aos 14 anos, ela começou a prestar concurso para entrar na Escola Preparatória de Cadetes do Ar, uma instituição de ensino médio que pertence à Força Aérea Brasileira. Como não conseguiu, a esperança no alistamento está vivíssima.
“O alistamento é uma luta de muito tempo que as mulheres têm e que desde pequena eu acompanho. É um sonho e uma oportunidade para todas nós colocarmos nossas habilidades à prova e mostrar que não somos fracas. Tudo o que os homens fazem nós vamos fazer, e isso não me assusta”, afirma.
Resistência
A primeira mulher a integrar o Exército Brasileiro foi Maria Quitéria de Jesus. Nascida em 1792, na Bahia, ela lutou na Guerra da Independência do Brasil, entre 1822 e 1823. Para conseguir estar entre os militares, a baiana se alistou disfarçada de homem, usando o nome de Soldado Medeiros. Seu talento foi tamanho que, anos depois, foi considerada a patronesse do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro e declarada uma heroína da Pátria.
Ao contrário do Brasil, países como EUA, França, Alemanha e Dinamarca têm anos de histórico de mulheres na linha de frente do Exército. A Noruega, por exemplo, foi o primeiro país da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) a liberá-las para ocuparem postos de combate, em 1985.
Por aqui, até o ano passado as brasileiras só podiam entrar para as Forças Armadas por meio de concurso para suboficiais e oficiais. São apenas 37 mil mulheres nas três Forças, representando 10% do efetivo. Hoje, elas atuam principalmente nas áreas de saúde, ensino e logística ou têm acesso à área combatente por meio de concursos públicos específicos em estabelecimentos de ensino.
De acordo com a professora Ana Luiza Paiva, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, a tímida e descentralizada participação feminina nas corporações na década de 1980, que posteriormente se intensificou nos anos 2000, ajudou a provocar mudanças na mentalidade nas Forças Armadas:
“O entendimento de que as mulheres podem e devem ocupar espaços tradicionalmente dominados por homens, tanto entre as próprias mulheres quanto dentro das Forças Armadas, pode ser considerado como um dos fatores explicativos para a alta procura pelo alistamento. Historicamente, o serviço militar também representa uma oportunidade de melhoria das condições materiais”, explica.