O almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen assumiu o comando da Marinha, nesta semana, em cerimônia de transmissão de cargo marcada pela ausência do antecessor, por um agradecimento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela promessa de “lealdade” ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Olsen disse ainda que vai pedir ao Congresso o apoio para a aprovação de um projeto que amplia a área marítima brasileira, o chamado mar territorial.
O comandante afirmou que o novo governo garantiu que a Força terá recursos para bancar projetos de expansão que vão assegurar o patrulhamento de áreas estratégicas para o País. “As pessoas olham para a Amazônia Verde, mas têm de olhar também para a Amazônia Azul, para os mares e oceanos, que garantem até mais oxigênio para a humanidade”, disse.
Desde 2004, o governo brasileiro reivindica o reconhecimento internacional nas Nações Unidas. A ideia é ampliar de 3,5 milhões de quilômetros quadrados para 4,5 milhões de km² a zona em que o País tem direito exclusivo de exploração de recursos.
O antecessor de Olsen, almirante Almir Garnier Santos, não compareceu à posse e era apontado como o mais bolsonarista dos comandantes. Ele chegou a propor, ainda no governo Jair Bolsonaro, que os chefes das três Forças Armadas entregassem os cargos antes da posse de Lula, o que foi interpretado como uma tentativa de confrontar o petista. A ideia foi abortada pelo Alto-Comando da Força.
“Honra”
“Expresso aqui notória gratidão ao presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo apanágio ao nomear-me comandante da Marinha”, disse Olsen, durante discurso de transmissão de cargo. “Ao ministro de Estado da Defesa, José Múcio Monteiro, pela honra e agraciamento pela indicação para o cargo, asseverando minha lealdade, comprometimento, disponibilidade e diligência na condução da Força Naval.”
A declaração ocorreu diante de ex-colaboradores e apoiadores de Bolsonaro, como o almirante de esquadra Flávio Viana Rocha, ex-secretário de Assuntos Estratégicos, e do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas, apoiador do ex-presidente da República e de manifestações como o acampamento no Quartel-General, que rejeitava a eleição do petista e clamava até por uma intervenção militar.
Autor de postagens no Twitter contra Lula, Villas Bôas compareceu a todas as cerimônias. Em cadeira de rodas e com aparelhos que facilitam a respiração, Villas Bôas circulou ao lado da mulher, Cida, no Clube Naval. Ele foi tietado por militares e trocou cumprimentos com autoridades. Ao fim da solenidade, Múcio fez questão de cumprimentar Villas Bôas e trocou palavras com Cida.
Também estiveram presentes os ex-ministros Raul Jungmann (Defesa de Michel Temer), Fernando Azevedo e Silva (Defesa de Bolsonaro) e Bento Albuquerque (Minas e Energia de Bolsonaro). A ausência do ex-comandante Almir Garnier foi criticada em conversas durante o coquetel que se seguiu à posse.
Missão
Olsen pregou, ainda, o cumprimento da missão constitucional da Marinha “em estrita observância às políticas, estratégias e planos nacionais e setoriais de Defesa”. Ele disse que as necessidades da Marinha estão alinhadas às melhores práticas de governança dos recursos públicos.
Ao falar sobre Lula, tratou também da necessidade de verbas para a Força. “Agradeço o introdutório de orientações e estímulo, particularmente, ao referir-se à necessidade premente de prover o requerido espaço orçamentário para aumentar a capacidade e prontidão operacional da Marinha do Brasil”, afirmou. Em conversas privadas, porém, o almirante tem demonstrado preocupação com o andamento dos projetos estratégicos de longo prazo e com a garantia de orçamento.
Nenhum dos projetos de desenvolvimento de equipamentos no Exército, na Marinha e na Aeronáutica sofreu atrasos nos últimos anos, por restrições de verba. Submarinista, Olsen tem especial atenção ao ProSub, que constrói quatro submarinos convencionais e um novo projeto de propulsão nuclear, em parceria com a França.
“A estatura política e estratégica do Estado brasileiro reclama por um poder naval compatível, dotado de capacidade operacional crível, estruturada sob condições de eficiência que garantam seu pleno emprego e a defesa da Pátria e a salvaguarda dos interesses nacionais no mar e em águas anteriores, em sintonia com os anseios da sociedade”, disse.
Emoção
Durante leitura da ordem do dia, seu discurso oficial, o almirante se emocionou ao falar de sua família e parentes. Já Múcio voltou a citar, também, gratidão a Lula. O ministro da Defesa afirmou que a Marinha é instituição de Estado, com atribuições “indelegáveis” a qualquer outro órgão nacional. Segundo Múcio, o que está em curso é “um processo natural de renovação” das Forças Armadas. “Ratifico a minha tranquilidade em saber que o timão da Marinha está confiado às mãos competentes de tão experiente oficial”, afirmou.