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Altitudes e atitudes

Enquanto aguardamos definições mais objetivas nos critérios e regras de arbitragem, especialmente sobre distribuição de cartões, mão na bola, e até quando uma unha mal cortada será causa de impedimento, há dificuldades históricas no futebol que poderiam ser resolvidas através de iniciativas conjuntas e políticas.

Num momento em que o futebol brasileiro clama pela criação de uma Liga única que organize competições, nossos clubes, também, deveriam se ocupar de questões que ultrapassam o imediato impacto financeiro.

Recentemente o Internacional foi às quartas de final da Libertadores, eliminando (e só por isso escrevo o artigo) o campeão boliviano. Pouco se ouviu ou viu na mídia esportiva brasileira sobre as qualidades do adversário colorado. Porque, na verdade, o perigo não estava na meta, na zaga, no meio-campo, tampouco no ataque boliviano, mas na altitude. Os quase quatro mil metros de altura em relação ao mar, os efeitos na hemoglobina, o ar rarefeito e a alteração da velocidade da bola se tornaram “jogadores” imparáveis, suficientes para definir a classificação. Isto é um inominável desequilíbrio técnico, comparável aos gramados sintéticos, que, aliás, são livremente permitidos nas mesmas competições.

A primeira Copa do Mundo foi em 1930 no Uruguai. De lá pra cá o futebol foi jogado pelos quatro cantos do mundo. Por qual razão não tivemos Copa do Mundo na Bolívia? Pela miséria do país, sua economia ou segurança? Claro que não! A Bolívia, por exemplo, tem taxa de desemprego muito inferior à do Uruguai, Argentina e Brasil, todos no mesmo continente. Mas em solo boliviano jogar futebol é uma aventura, que desafia a falta de ar, tornando o adversário do time local vulnerável por não conseguir respirar!

Se isto não é desequilíbrio técnico, os clubes de futebol rasgaram dinheiro de seus sócios na aquisição de equipamentos de última geração e na qualificação técnica de médicos e profissionais da fisiologia.

Os clubes de futebol deveriam se unir e impedir que o futebol fosse praticado em determinados locais. Ninguém está livre de uma nevasca, de uma súbita onda de calor ou de um temporal. Mas estes são fenômenos da natureza que, ainda que previsíveis, não ocorrem todos os dias. Do contrário, não seriam chamados de “fenômenos”. Que o jogo seja realizado, por exemplo, na cidade mais próxima à sede do mandante, com níveis aceitáveis de altura, e com despesas custeadas pela entidade organizadora da competição, para não penalizá-lo por “ter nascido nas alturas”.

A conclusão é que um lugar onde é imposto ao adversário dificuldade tal, capaz de decidir o jogo em favor do mandante, unicamente pela característica geográfica da região, não poderá ser considerado apto para a prática do futebol. Ora, não é difícil, creio, estabelecer um padrão mínimo de altitude onde seja possível correr sem ter uma síncope respiratória.

Mas para combater a altitude, só atitudes…

– Emílio Papaléo Zin (Conselheiro do Sport Club Internacional)

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