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Alvo da oposição nas redes sociais, Lula repete gafes e vê repercussão negativa aumentar

O levantamento esmiuçou 5,9 milhões de conteúdos das mesmas redes postados nos últimos 365 dias tratando de declarações de Lula, apontando as ocasiões com maior impacto negativo para o petista. (Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

Conhecido pela facilidade ao falar de improviso e de transformar discursos de assimilação simples em capital político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a ver, neste terceiro mandato, a própria retórica alimentar a oposição e render críticas até entre simpatizantes. Embora deslizes verbais já tivessem ocasionado dores de cabeça pontuais no passado, especialistas avaliam que as declarações atuais — algumas de viés machista ou racista, por exemplo — refletem a dificuldade do petista em se adaptar a um mundo “mais exigente” sobre esses temas e no qual informações repercutem mais intensamente graças às redes sociais. Além disso, Lula ainda se depara com rivais à direita preparados para explorar seus erros à exaustão na arena digital.

O episódio mais recente se deu na última semana, quando o chefe do Executivo destacou, diante de parlamentares, ter escolhido “uma mulher bonita” para comandar a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) — em referência a Gleisi Hoffmann (PT). De acordo com dados da consultoria Bites, o caso gerou a segunda maior reação negativa ao presidente nas redes, superado apenas pela comparação feita pelo petista dos ataques israelenses à Faixa de Gaza ao Holocausto.

Nas plataformas da Meta (Instagram, Facebook e Threads), a fala mobilizou mais de 3.300 comentários nas horas seguintes, que associaram o presidente a termos como “absurdo” e “vergonha”, aponta relatório da consultoria GoBuzz. “A frase desagrada não apenas mulheres e defensores da igualdade de gênero, mas também dá munição aos adversários, que relembram episódios polêmicos do passado para desgastar ainda mais sua imagem”.

O levantamento esmiuçou 5,9 milhões de conteúdos das mesmas redes postados nos últimos 365 dias tratando de declarações de Lula, apontando as ocasiões com maior impacto negativo para o petista. A lista inclui a menção a Gleisi e também outros momentos de cunho sexista, como quando disse que “homens são mais apaixonados pela amante”, em janeiro. Com a popularidade em queda nas pesquisas, um dos segmentos nos quais a aprovação ao presidente mais recuou este ano foi justamente junto a mulheres.

Entre os momentos mais críticos para Lula, surge ainda uma declaração sobre a escravidão, descrita em março de 2024 como “uma coisa boa” por gerar “miscigenação”. Um mês antes, ele já havia afirmado, ao lado de uma jovem negra no palco de evento, que “afrodescendente assim gosta de um batuque de tambor”.

Mas as patinadas não se restringem a pautas identitárias. Também estão entre as declarações de repercussão digital mais desfavorável a sugestão de que a população deixasse de comprar produtos caros para conter a inflação, em fevereiro, e uma fala sobre o “padrão de vida que não tem na Europa” supostamente exibido pela classe média brasileira — essa ainda da pré-campanha à Presidência, em 2022, mas até hoje explorada.

“Com as redes, esses conteúdos não morrem. A frase mal colocada fica se reciclando. E, a cada episódio, há uma reoxigenação e associação a novas situações, fortalecendo argumentos contrários ao governo”, explica Rafael Bergamo, diretor da GoBuzz.

Apesar da guinada recente, a trajetória política de Lula guarda outras passagens delicadas. Em 2000, dois anos antes de vencer a primeira disputa pela Presidência, ele protagonizou uma cena que acabaria explorada por rivais do PT na eleição municipal de Pelotas (RS). Ao arrumar a gravata do então prefeito, Fernando Marroni (PT), o petista foi flagrado dizendo que a cidade seria “um polo exportador de viados”.

Uma década depois, já no segundo mandato, o presidente discursou que “uma mulher não pode ser submissa ao homem por causa de comida”, mas sim “porque gosta dele”. Seis anos mais tarde, escutas tornadas públicas pelo ex-juiz da Lava-Jato e hoje senador Sergio Moro mostraram Lula questionando onde estariam “as mulheres de ‘grelo’ duro do PT”. Embora tais episódios tenham alcançado um certo nível de repercussão, especialistas destacam que o dano, nos tempos modernos, é maior.

“Antes não se falava em politicamente correto. As falas rodavam mais entre paredes, só ganhava tração se ocorria diante do microfone. E hoje, com celulares e redes, ele está sempre ligado. O mundo fica mais exigente sobre o que é dito”, diz o professor do Insper e cientista político Carlos Melo.

Já Christhian Lynch, também cientista político e professor da Uerj, destaca a “força da inércia” dos 80 anos de Lula:

“Para ele, há dificuldade de se acomodar a essa mudança de pensamento, mas também dúvidas sobre valer a pena investir nessas pautas.”

Após a fala sobre Gleisi, a oposição bolsonarista iniciou uma ofensiva imediata nas redes. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) destacou o “ataque com uma fala misógina dias após o Dia Internacional da Mulher”. Já seu colega de Câmara Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmou que “faltaria pano para as feministas”, em referência à defesa que aliadas fariam do governo. A própria ministra argumentou que o correligionário é o líder que “mais empoderou mulheres”. As informações são do portal O Globo.

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