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Por Redação O Sul | 23 de junho de 2015
Henrique 8 deixou a Igreja Católica para que a Inglaterra tivesse sua própria religião. Napoleão Bonaparte pôs a Europa de joelhos perante a França. Pedro 1 foi desafiado a transformar uma colônia no Império brasileiro. Homens de importância incontestável na trajetória de seus países, eles foram motivados a cumprir seus feitos não apenas por razões de Estado, mas também por quem dividiam a cama – e não em seus relacionamentos formais.
Durante séculos, amantes e cortesãs eram figuras fáceis ao lado de monarcas de diversos países, relegando as rainhas à sombra e assumindo tarefas como a recepção de embaixadores e o patrocínio de artistas. Ganhavam castelos, joias e garantiam títulos de nobreza aos filhos bastardos.
A busca por outros “rabos de saia” era vista como uma consequência natural de como ocorriam os matrimônios reais. Os noivos eram escolhidos para assegurar a prosperidade e a paz entre seus impérios. Depois da troca de alianças, os reis sentiam-se à vontade para correr atrás de seus desejos.
“No casamento, as princesas eram simples moedas de troca usadas para fins políticos”, conta a historiadora María del Hierro. “Os monarcas, então, buscavam o amor fora do leito conjugal.”
Alguns soberanos tomaram atitudes extremas para se livrarem das rainhas. No século 14, por exemplo, o rei português Fernando 1 recorreu ao papa para anular seu casamento com Constança de Castela. Alegou que ambos eram parentes. Era difícil comprovar o argumento, mas a compra de sacerdotes viabilizou o seu pedido. Solteiro, uniu-se oficialmente a Leonor de Meneses, que já frequentava seus lençóis. Mesmo sob a oposição da Corte, capitaneada por seu meio-irmão, Leonor posou como verdadeira governante, aproveitando-se da saúde frágil do marido.
Na Inglaterra dos anos 1500, Henrique 8 caiu de amores por Ana Bolena, que inicialmente fingiu não ter interesse no monarca. O rei absolutista estava tão apaixonado que ignorava um defeito grave de sua musa – tinha seis dedos na mão esquerda, o que era encarado como um sinal de bruxaria. O maior empecilho, no entanto, atendia por Catarina de Aragão. A mulher de Henrique recusou a anulação do casamento. Apoiado pelo povo, Henrique expulsou a Igreja Católica de seus domínios – e Catarina, por extensão.
“Até o século 18, ter uma ‘favorita’ era fundamental para construir a imagem viril do monarca”, lembra a historiadora Mary del Priore.
Mas nem sempre a história terminava bem. O próprio Henrique 8 irritou-se com a dificuldade de Ana Bolena para dar à luz um “varão”. Já envolvido com outra jovem, o rei acusou sua mulher de adultério. Depois de um rápido julgamento, ela terminou decapitada.
A lista de affairs decepcionantes inclui outro rei conhecido por seu autoritarismo. Em 1667, o francês Luís 14 trocou a amante oficial, Madame de la Vaillère, por uma amiga íntima, Madame de Montespan. O “Rei Sol” acolheu seus sete filhos e lhes cedeu privilégios e títulos. A relação ardente derreteu 12 anos depois.
“Se aamante se mostrava ambiciosa e intrigante, capaz de prejudicar os interesses do reino, a rejeição do povo era total”, ressalta María. “Porém, em outras ocasiões, quando se acreditava que ela exerceria uma influência favorável, poderia ser tolerada e inclusive admirada. Foi o caso da Madame de Pompadour, amante do francês Luís 15, que atuou como mecenas de Voltaire e Diderot.”
Brasil.
No Brasil, o imperador D. Pedro I e Domitila de Castro Canto e Melo protagonizaram o maior escândalo de infidelidade conjugal da monarquia. “Domitila tinha uma astúcia extraordinária”, assinala Mary. “Pedro foi profundamente apaixonado. Deu-lhe o título de marquesa e prometeu uma vida na Corte, humilhando a imperatriz Leopoldina.”
Segundo Mary, hoje, a história na monarquia é outra: ninguém fica casado se está infeliz. E a rede de alianças entre impérios e amores clandestinos ficou para trás. (AG)