Responsável pelas investigações do desaparecimento do acreano Bruno Borges, de 24 anos, o delegado Fabrizzio Sobreira, coordenador da Delegacia de Investigação Criminal, diz que os amigos que ajudaram o jovem com as escrituras no quarto e a criptografia de 14 livros, teriam feito um pacto de sigilo para não revelar o objetivo real do projeto.
Sobreira diz que todos os envolvidos já prestaram depoimentos, entre eles o primo de Borges, o oftalmologista Eduardo Veloso,
Estátua do filósofo Giordano Bruno está no quarto de estudante. (Foto: Reprodução)
que financiou o projeto com R$ 20 mil e os dois amigos que ajudaram o estudante a escrever e criptografar o quarto. Outra
pessoa que foi ouvida pela polícia foi o artista plástico Jorge Rivasplata, de 83 anos, autor da escultura do filósofo Giordano Bruno (1548-1600) – réplica da que existe no Campo de Fiori, em Roma.
“Pelo que nós entendemos na investigação, existia entre eles um pacto de não revelar o projeto de Bruno. Então, nós também não podemos forçar as pessoas que passam pela delegacia a falarem aquilo que não querem, mesmo sob pena de cometer crime de falso testemunho. Mas, eles não são obrigados a expor o pacto que possivelmente existiu”, destaca.
Mesmo assim, o delegado alega que o núcleo de amigos do estudante de psicologia é reduzido. As investigações, segundo o delegado, apontam que Borges é quem agregava todo o conhecimento relacionado a criptografia das mensagens e livros. Os amigos teriam apenas ajudado o jovem que teria dito que iria expor o projeto no momento oportuno.
Outro ponto que a polícia investiga é uma ligação que Borges teria recebido quando pegou um táxi e parou próximo a uma estrada de barro. Sobreira diz que todos os meios investigativos possíveis estão sendo utilizados e verificam uma possível utilização de equipamentos eletrônicos dos quais a própria família do estudante não teria conhecimento.
“Nós não descartamos a possibilidade de terem sido usados esses equipamentos, telefones celulares, com número diversos para que não fosse identificado o verdadeiro projeto de Bruno”, disse.
O delegado afirma ter certeza de que o jovem está vivo, mas ao mesmo tempo diz não descartar a hipótese de que ele esteja sofrendo algum tipo de crime. Para Sobreira, existe a possibilidade de Borges ter sido influenciado por terceiros que poderiam interferir tanto no projeto como na vida pessoal do estudante.
Desde o desaparecimento, os investigadores receberam várias denúncias de pessoas que afirmam ter visto o acreano. Entre os locais apontados estão o Chile, Peru e até o Paraguai. Por isso, a polícia do Acre conta com a colaboração desses países para tentar localizá-lo.
“Não podemos descartar a possibilidade de Bruno estar nesse momento se furtando de ser encontrado até para que seja implementado esse seu projeto. Temos policiais na fronteira cientes dessa situação e colaborando com o objetivo de localizá-lo e entender o que o motivou. Inicialmente a gente trata como uma questão policial tendo em vista o desaparecimento de uma pessoa de bem”, ressalta.
Desaparecimento
O jovem está desaparecido desde o último dia 27 de março, em Rio Branco. A última vez que os parentes viram Bruno foi durante o almoço de família, na segunda (27). O jovem voltou para casa e todos – mãe, pai e os outros dois irmãos – seguiram o dia normal de trabalho. Mais tarde, o pai de Bruno, o empresário Athos Borges, retornou à residência da família e percebeu que o filho não estava.
No quarto do estudante, que ficou trancado por 24 dias enquanto os pais viajavam, foi encontrada uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600) orçada em R$ 7 mil, e 14 livros extremamente organizados, escritos à mão. Alguns deles copiados nas paredes, teto e chão. Todas as obras – identificadas por números romanos – criptografadas.
Bruno deixou 14 livros criptografados. Jovem quer patentear os livros que escreveu, segundo a mãe. (Foto: Reprodução)
Junto com os 14 livros criptografados deixados no quarto, o estudante também deixou as “chaves” que servem como guia para a decodificação. De acordo com a família, os escritos foram feitos com a utilização de pelo menos quatro códigos diferentes.
A investigação do caso é feita pela Polícia Civil do Acre de maneira sigilosa.
O artista plástico Jorge Rivasplata, autor da estátua de Giordano Bruno, disse acreditar que Bruno seja a reencarnação do filósofo – queimado durante a inquisição – e tenha completado a obra dele. A escultura de mais de 2 metros foi entregue ao jovem no dia 16 de março e finalizada pelo próprio artista dentro do quarto de Bruno.
“Tudo foi premeditado para esse projeto, tudo o que está acontecendo já estava escrito. Acredito muito nele. Desde que começamos a conversar sempre acreditei”, disse Rivasplata.
O desaparecimento do jovem acabou inspirando a criação de jogos para smartphone. Os aplicativos foram disponibilizados na Play Store, do Google, com os nomes “Menino do Acre”, “Encontre o Menino do Acre” e “Alquimistas do Acre”.
Um dos aplicativos explica que os jogadores devem desvendar o mistério por trás do desaparecimento coletando os livros – deixados criptografados pelo jovem – ao longo do jogo. Outro game pede que o jogador toque a tela para procurar o “menino do Acre”.