Um velho aforisma da medicina diz que “o cirurgião quando entra no bloco cirúrgico pensa que é Deus. Entretanto, quando sai, ele tem certeza”.
Geralmente o resultado do tratamento cirúrgico, é muito gratificante. Vencemos a doença cortando, extirpando, desviando, transferindo e costurando tecidos usando a ponta do bisturi e um porta-agulhas.
Entretanto, a amputação de um membro não nos deixa feliz. É uma cirurgia triste! Mas também existe uma regra na traumatologia que diz: “Primeiro a vida, depois o membro e depois a função”. Mantemos a vida, mas no fundo o clima é de derrota, pois perdemos o membro.
A amputação é o reconhecimento da falência do tratamento médico clínico e cirúrgico.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a média diária de amputações no Brasil é de 66 por dia. Na maioria são idosos e as principais causas são doenças cardiovasculares, as microangiopatias dos diabéticos e as doenças obstrutivas vasculares dos fumantes.
Nos jovens e nos adultos a principal causa é a traumática decorrente dos acidentes de trânsito e, principalmente, envolvendo motocicletas. A decisão de amputar nos pacientes jovens é uma das decisões mais difíceis de ser tomada pelo cirurgião. A sentença nunca deve ser feita individualmente, mas sim em consenso com outros médicos especialistas. Ela normalmente impõe múltiplos sofrimentos.
Segundo psicólogos a perda de um segmento corpóreo de um membro gera um sentimento de luto que só pode ser comparado com a perda de um ente querido.
Nas grandes lesões traumáticas e nos esmagamentos parciais, com o avanço da medicina, a manutenção e a preservação do membro inferior pode ser feita através de pontes vasculares, transferências e enxerto de ossos, músculos, pele e tendões. Evidentemente uma reconstrução requer várias cirurgias, que com sucesso preservam o membro, mas dificilmente preservará as funções.
Por isso muitas vezes no final do tratamento existe uma grande dúvida: Valeu a pena?!
A evolução das próteses dos membros inferiores consagra a tecnologia médica. Ela pode oferecer ao amputado uma função perfeita e até melhor que o membro original. Em 2008, a Federação Internacional de Atletismo proibiu a participação do Sul Africano Oscar Pistorius, amputado bilateral, disputar as olimpíadas pois os membros artificiais seriam como molas propulsoras. Seria um “doping mecânico”.
As pernas seriam melhores que as naturais!
Infelizmente esta tecnologia é cara e evidentemente não está disponível pelo SUS onde os brasileiros se enfileiram para receber benefícios infinitamente menores. Lamentavelmente a evolução tecnológica não evolui satisfatoriamente nos amputados dos membros superiores, principalmente na mão.
A protetização do membro superior somente alcançara os mesmos índices de sucesso quando desvendarmos o cérebro. A mão além de ser motora é fundamentalmente sensitiva.
No cenário da amputação traumática todos sofrem: o paciente, a família, o médico e a sociedade!