Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 20 de agosto de 2015
Um garoto de 18 anos foi enterrado no interior do Maranhão quase uma semana após ter injetado uma substância conhecida como hidrogel em seu pênis. A família o descrevia como um jovem preocupado com seu corpo, que malhava com regularidade.
A morte do jovem revela a extensão dos impactos que a preocupação exagerada com a imagem corporal pode trazer para a vida das pessoas, sobretudo dos mais novos. Há um investimento cada vez maior em atividades físicas (horas na academia) que aproximam o corpo do padrão considerado ideal: forte, no caso dos homens.
Em paralelo, há uma busca por substâncias e procedimentos que possam facilitar essa meta. Nesse rol, entra o uso dos anabolizantes (hormônios sintéticos), que aumentam a massa muscular de forma mais rápida. O problema é que esses hormônios trazem consequências importantes para a saúde e para o comportamento, como aumento na taxa de colesterol, mais risco de câncer de fígado e agressividade.
Muitas vezes, o uso é feito sob a orientação de leigos ou após um rápida busca de informações na internet. Até a compra do produto pode ser feita on-line, sem garantias de qualidade de procedência. A busca por cirurgias plásticas (lipoaspiração, colocação de próteses de mamas) e por recursos estéticos menos convencionais também invadiu o mundo dos mais novos.
Garotas ainda adolescentes, que nem encerraram seu ciclo de mudanças corporais, já buscam intervenções capazes de alterar suas formas. Um dos problemas é que métodos pouco ortodoxos, condenados ou não recomendados pelas entidades médicas ou pelas de saúde, são empregados largamente e, pior, em muitas situações de forma clandestina.
Riscos do hidrogel.
O hidrogel entra nesta lista. Apesar de aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para uso limitado em procedimentos estéticos, ele não é recomendado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
No último ano, uma mulher morreu em Goiânia (GO), após uma aplicação dessa substância, em geral, utilizada para aumentar o volume das coxas e das nádegas. Foi bastante noticiada a internação e o risco de amputação da perna da modelo gaúcha Andressa Urach, após o uso de grande quantidade de hidrogel. A aplicação do produto no órgão genital revela outra questão frequente entre adolescentes (e mesmo entre homens adultos), que é o tamanho do pênis. A busca desesperada por esse aumento revela fantasias com o melhor desempenho sexual, mais masculinidade e maior poder de satisfazer as mulheres. Muitos vivem uma verdadeira obsessão!
O gel pode pressionar vasos e provocar isquemia (falta de irrigação de sangue), com risco de necrose de tecidos. Há também a chance de infecções se não for feita uma assepsia adequada. Além disso, se houver imperícia ou erro, a substância pode ser injetada diretamente em um vaso sanguíneo, com risco de provocar trombos, que podem levar a uma embolia pulmonar (provável causa da morte do garoto).
A combinação de mais acesso à informação sobre esses produtos na rede e mais facilidade de compra traz o risco de que cada vez mais gente empregue esses métodos para tentar modificar seu corpo sem consultar médicos ou especialistas. Para evitar essa história, é fundamental discutir com os jovens a forma como eles se enxergam e como a busca obsessiva por um corpo ideal pode impactar sua vida. Seria importante, também, pensar em formas de regular a venda e o uso desses produtos e procedimentos. (Jairo Bouer/AE)