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Por Redação O Sul | 28 de agosto de 2022
Os antidepressivos são seguros, eficazes e usados por milhões de brasileiros. Dados do Conselho Federal de Farmácia apontam que, em 2021, foram vendidos quase 43 milhões desses medicamentos e estabilizadores de humor. Especialistas afirmam que estes medicamentos estão mais seguros agora do que há 30 anos.
Apesar disso, eles ainda são rodeados de muita dúvida e estigma: causam dependência? Têm efeitos colaterais? Como eles agem? Por quanto tempo alguém que tem depressão precisa tomá-los? O que é, de fato, um antidepressivo?
Os antidepressivos são medicamentos que alteram o funcionamento de circuitos cerebrais que controlam o humor. Como o nome diz, eles costumam ser usados para tratar o transtorno depressivo maior, ou, simplesmente, depressão.
Apesar de serem genericamente chamados de “antidepressivos”, eles também podem ser úteis para o tratamento de outros transtornos mentais, como o obsessivo-compulsivo (TOC) e o de ansiedade generalizada (TAG). Além disso, existem outros medicamentos – os estabilizadores de humor – que podem contribuir para tratar a depressão: os antipsicóticos, os anticonvulsivantes e o carbonato de lítio.
A revolução da fluoxetina
Por muito tempo, não existiram medicamentos específicos para a depressão. Na década de 50, surgiram os primeiros antidepressivos: a imipramina, da classe dos tricíclicos, e a iproniazida, um IMAO.
Ambas as classes causavam muitos efeitos colaterais. Mesmo assim, “eles ainda foram revolucionários na época, porque [antes] não havia nada com o que tratar a depressão”, explica Maria Fernanda Salomão.
“Qual o grande problema dessas classes? Eles aumentavam a serotonina na fenda sináptica [espaço entre um neurônio e outro], mas também aumentavam a pressão [arterial]”, acrescenta a farmacêutica.
“Os tricíclicos podiam ter interferência nos idosos, com risco de queda, alta sonolência, arritmia, retenção urinária. Por que não eram seguros? Porque não eram seletivos da recaptação da serotonina. Não só interferiam na fisiologia dos neurotransmissores, [mas] também em outros sistemas farmacológicos. Por isso que eles são mais inseguros e têm mais efeitos colaterais – porque não são seletivos”, pontua.
Na década de 80, com a chegada da fluoxetina – o Prozac – ao mercado, o que houve foi uma revolução no tratamento da depressão, afirma Maria Fernanda Salomão.
“De 1988 para frente, a gente tem uma grande inovação, um grande passo, que são os inibidores seletivos de recaptação de serotonina. A primeira é a fluoxetina. Eles vieram como uma revolução, porque não interferiam em outros sistemas, apenas inibiam a recaptação da serotonina, então mantinham uma concentração de serotonina mais alta na fenda sináptica”, explica a professora.
Não quer dizer que a fluoxetina não tenha efeitos colaterais – mas ela trouxe mais segurança para o tratamento.
Ação dos antidepressivos
Os antidepressivos agem, principalmente, sobre três neurotransmissores – que são mensageiros químicos do cérebro: a serotonina, a noradrenalina e a dopamina. Essas substâncias estão ligadas a sensações de prazer e bem-estar.
“Em geral, os antidepressivos aumentam a disponibilidade de um ou de vários desses neurotransmissores – geralmente, para melhorar o funcionamento desses circuitos que controlam o humor”, explica o médico psiquiatra Neury José Botega, professor titular pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Os antidepressivos são divididos em classes, conforme seu modo de ação:
– Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS ou SSRIs, na sigla em inglês): como o nome diz, eles agem inibindo a recaptação de serotonina, para aumentar sua disponibilidade no cérebro. Exemplos incluem fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina, citalopram e escitalopram.
– Inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina (ISRSN ou SNRIs, em inglês): além de inibirem a recaptação de serotonina, também inibem a recaptação da noradrenalina. Exemplos incluem duloxetina, venlafaxina e desvenlafaxina.
“[Servem] tanto para depressão quanto para controle de ansiedade e controle da dor”, diz Botega.
– Antidepressivos tricíclicos: os tricíclicos também afetam a recaptação de noradrenalina e de serotonina, mas são mais antigos que os outros e causam mais efeitos coletareis, como boca seca, intestino preso e interferência no ritmo cardíaco, explica Neury. São chamados de “tricíclicos” por causa de sua estrutura química, que tem três anéis de carbono. Exemplos incluem imipramina, clomipramina, nortriptilina e amitriptilina.
– Inibidores da monoamina oxidase (IMAOs): agem tornando mais difícil para uma enzima chamada monoamina oxidase quebrar a noradrenalina e a serotonina. Assim como os tricíclicos, também são antigos e, hoje, raramente usados para tratar a depressão, por causa dos efeitos colaterais, mas utilizados tratamento de Parkinson. Exemplos incluem a tranilcipromina, a fenelzina e a isocarboxazida.
– Estabilizadores de humor: incluem alguns antipsicóticos (haloperidol, olanzapina, quetiapina e risperidona), anticonvulsivantes (carbamazepina, lamotrigina e valproato de sódio) e o carbonato de lítio. Esses medicamentos podem ser usados para potencializar o efeito de um antidepressivo se o paciente com depressão não estiver respondendo adequadamente. É mais comum, entretanto, que sejam usados para tratar o transtorno bipolar.
– Outros medicamentos: remédios como a bupropiona ou a quetamina (também chamada de escetamina ou grafada como “ketamina”) também podem ser usados para tratar a depressão.