Antonio Palocci afirmou durante depoimento de delação à Polícia Federal que em 2014 Luiz Inácio Lula da Silva o teria procurado para tentar combinar falso testemunho sobre encontros com João Carlos de Medeiros Ferraz, o ex-gerente da área de Finanças da Petrobras que montou e virou presidente da Sete Brasil – empresa criada e contratada por US$ 22 bilhões para fornecer os primeiros 28 navios-sondas para exploração os poços de petróleo do pré-sal. A proposta teria ao delator sido feita quando a Operação Lava-Jato já estava nas ruas e começava a chegar no esquema de corrupção nos negócios da estatal.
“O próprio presidente Lula me falou, porque ele (Ferraz) foi duas vezes ao presidente Lula e o presidente Lula queria depois que soube que o João Ferraz tinha pego propina, o presidente Lula queria que eu assumisse que eu tinha levado o Ferraz lá”, afirmou o ex-ministro da Fazenda do primeiro governo do PT e ex-Casa Civil de Dilma Rousseff.
Palocci narrou os supostos desvios em fundos de pensão de estatais, afirmando que o ex-presidente da Sete Brasil buscou apoio de Lula quando ele já não era mais presidente, entre 2012 e 2013, para os negócios da empresa.
Formada pela Petrobras em sociedade com investidores, entre eles os fundos de pensão de estatais Previ, Funcef e Petros, e os bancos BTG, Santander e Bradesco, a Sete serviu para contratar os estaleiros para construção dos primeiros 28 navios-sondas e fornecê-los em funcionamento para a estatal.
Em 2014, a Lava-Jato descobriu que todos os contratos tinham acerto de 1% de propinas, que eram divididas entre políticos do PT e os agentes públicos envolvidos.
A Polícia Federal recuperou os arquivos apreendidos no Instituto Lula elementos de prova sobre os encontros do ex-presidente com o representante da Sete Brasil que reforçam as afirmações do delator. São trocas de e-mails entre o ex-presidente da Sete Brasil e a assessora direta de Lula Clara Ant, mandados para o Instituto Lula.
Um deles de agosto de 2012 indica que o destinatário das mensagens de Ferraz era Lula. “Conforme combinamos na última 6.ª feira, sirvo-me da presente para atualizá-la a respeito do assunto em referência.
Porém, antes de entrar em detalhes a respeito da questão específica, gostaria que você fosse portadora ao meu querido líder e destinatários dessas informações no sentido de que fiquei extremamente feliz com as notícias hoje veiculadas sobre a sua saúde”, escreve Ferraz.
“Todos nós precisamos muito dele e de suas orientações e sabermos que ele está em processo de franca recuperação nos enche de esperanças e felicidades.” Em 2012 Lula se recuperava de um tratamento contra câncer na laringe iniciado no final de 2011.
O negócio de US$ 22 bilhões com cinco estaleiros controlados por empreiteiras do cartel que fatiava obras de refinarias na Petrobras – como Odebrecht, OAS e Engevix – envolvia propinas para o PT, seus políticos e agentes públicos indicados.
O ex-executivo da área de finanças da Petrobras João Carlos de Medeiros Ferraz deixou a companhia para ser o primeiro presidente da Sete Brasil, e o então gerente de Engenharia da estatal, Pedro Barusco, foi ser o diretor de operações.
“Esse esquema foi implantado pelo próprio Barusco em conjunto com o João Vaccari [ex-tesoureiro do PT]. Os dois negociaram com os estaleiros o pagamento de comissão de 0,9% sobre o valor total de cada contrato”, contou Ferraz em depoimento prestado em julho de 2016 a Moro.
Ordens de Lula
Palocci detalhou na delação as ordens de arrecadação de propina dadas por Lula antes da criação da Sete Brasil e sua atuação posterior para manter o negócio.
No Termo 01 da delação, relatou uma suposta reunião na biblioteca do Palácio da Alvorada, no início de 2010, em que o ex-presidente teria exigido que os contratos do pré-sal fossem feitos com estaleiros no Brasil e que os contratos pagassem a campanha de Dilma Rousseff, sua sucessora – eleita naquele ano, reeleita em 2014 e cassada em 2016.
Palocci afirmou que em 2014 Lula queria que ele assumisse a responsabilidade por ter levado Ferraz até ele para tratar dos negócios das sondas do pré-sal, “porque percebe que o assunto pode chegar nele”.
Disse que avisou o ex-presidente que não assumiria a responsabilidade e sobre os riscos. “Eu não concordei com ele, falei que ele deveria falar como foram essas visitas, quem marcou e não tinha porque falar que eu tinha levado porque essa mentira ia aparecer depois.”
No PT e no governo, Palocci foi um dos pilares de formação do partido e da primeira vitória de Lula em 2002 – após três tentativas. Homem de confiança do ex-presidente, ele diz que mesmo fora do governo era chamado para ser a ponte com os empresários.
A defesa do ex-presidente Lula disse que Palocci não apresentou nenhuma prova contra o ex-presidente.