Quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de fevereiro de 2025
Com relatos que se acumulam nos últimos anos de pacientes que apresentam sequelas e deformidades após o uso de PMMA (polimetilmetacrilato), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai decidir se proíbe ou não o uso no País da substância como preenchedor.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) chegou a se reunir no mês passado com a Agência, pedindo oficialmente que o produto seja banido para este uso.
Procurada, a Anvisa informou que o relatório e dados apresentados pelo CFM, assim como outras informações encaminhadas sobre o tema, foram acrescidos ao processo de investigação em curso na agência. “Nesse momento, além da segurança e eficácia, a Anvisa também está avaliando toda a cadeia de comercialização do produto, que incluem a fabricação, a distribuição e o uso”.
O 2º tesoureiro do CFM, Carlos Magno Dalapicola, explicou que o tema foi debatido em uma plenária temática com representantes da cirurgia plástica e dermatologia, que costumam lidar com complicações do PMMA.
O Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) informou que há dois casos de problemas envolvendo a aplicação de PMMA em apuração. Um deles, em fase de sindicância (apuração preliminar à possível instauração de processo) e outro processo ético-profissional.
O presidente do CRM-ES, Fernando Tonelli, destacou que o posicionamento segue o do CFM, que é respaldado por farta fundamentação técnica e científica. Ele orienta que pacientes que buscam esse tipo de tratamento se informem se serão atendidos de fato por um médico e, preferencialmente, por um médico especialista nas áreas que atuam com estética, como os cirurgiões plásticos e os dermatologistas.
“Substância é uma bomba relógio”, diz influenciadora
Foram mais de quatro anos e cinco cirurgias até a influenciadora Mariana Michelini, 36, conseguir sair de casa sem o rosto coberto por máscara. Ela fez um procedimento de harmonização com aplicação de PMMA em 2020. “Como era modelo influenciadora na minha cidade, o procedimento foi um trabalho de divulgação com uma dentista”.
Segundo ela, a dentista disse que era ácido hialurônico. “O pesadelo começou exatamente seis meses depois. De uma hora para outra, acordei inchada”.
Após procurar vários médicos e fazer a biópsia, veio a notícia que era o PMMA. “Foi um ano tratando, tentando conter o inchaço, a vermelhidão e a dor insuportável. Até que o produto migrou para o buço e o dermatologista disse que teria que remover”.
Para isso, buscou um profissional de Porto Alegre, que aceitou ajudar, fazendo a cirurgia. “Passei a contar minha história nas redes sociais. Fiz vaquinhas e rifas para conseguir viajar. Tive de remover minha boca, buço e ainda um retalho do lado do nariz”.
A reconstrução da boca foi um novo desafio, com um ano voltado aos procedimentos. “Sigo com o pensamento positivo. Estou livre da máscara. Foi 4 anos usando máscara para sair de casa”.
Documento em defesa do produto
Mesmo com o posicionamento contrário de entidades ao uso de PMMA, mais de 200 médicos que fazem o uso da substância em seus pacientes se uniram em defesa do preenchedor.
Eles informaram que protocolaram no Conselho Federal de Medicina (CFM) um requerimento em que pedem a realização de plenária com a participação dos médicos que atuam com a substância, além da revisão do pedido de banimento do produto no Brasil.
O médico ortopedista Thanguy Friço está entre profissionais que defende o uso da substância. Segundo ele, trabalha com o PMMA há 26 anos, tanto na área da ortopedia, quanto na harmonização corporal.
“Temos no País mais de 600 médicos que atuam com o PMMA. Ele não é uma substância nova e até hoje não foi banida do mercado exatamente não ter embasamento para isso”, pontuou.
Ele ainda destacou que o que se tem buscado hoje é uma regulamentação do ato médico e fiscalização das clínicas que realizam os procedimentos.
O médico Pedro Lima também atua com o PMMA há seis anos e é contrário a banir o produto do mercado. “Apesar da polêmica, em seis anos, nunca precisei tirar produto, internar paciente ou tive problemas com relação ao PMMA. Quando bem utilizado, por profissionais capacitados, os resultados são fantásticos e mais duradouros”.
Ele acrescentou que hoje há só duas marcas aprovadas no mercado. “O que temos visto de intercorrência são produtos aplicados em alta concentração, em plano errado ou até mesmo de substâncias que não tem registro”.
Aprovado para fins corretivos
PMMA
O PMMA, ou polimetilmetacrilato, é um tipo de preenchedor usado em procedimentos médicos e precisa ter registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Riscos
Segundo entidades médicas, como o material é permanente, ou seja, não é absorvido pelo corpo, ele pode causar deformações, inflamações, necrose e até a morte.
Médicos também afirmam que, depois de aplicado, sua remoção é praticamente impossível, porque o produto se espalha pelos tecidos. As informações são do portal Tribuna Online