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Ao anunciar saída do Acordo Climático de Paris, os Estados Unidos ficam ao lado de Irã, Líbia e Iêmen

Bravata de Trump é questionada pela comunidade internacional. (Foto: Divulgação/WH)

O secretário-geral das Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse estar confiante de que cidades, Estados e empresas dos Estados Unidos continuarão a mostrar visão e liderança no que se refere às modernas exigências de harmonia entre interesses comerciais e ambientais, mesmo depois de o presidenteDonald Trump dizer que vai retirar o país do Acordo de Paris, firmado em 2015.

Conforme um porta-voz da ONU, Guterres teria dito ser crucial que o país mais poderoso do mundo continue
líder em questões ambientais. Ao mencionar a intenção de sair do tratado climático global, os Estados Unidos ficam ao lado do Irã, da Líbia e do Iêmen como os únicos países não signatários do documento.

Simon Stiell, secretário-executivo de Mudanças Climáticas da ONU, mencionou o que pode acontecer com a economia americana se desprezar investimentos em energias renováveis: “O boom global de energia limpa, no valor de US$ 2 trilhões somente no ano passado e em rápido crescimento, é o negócio de crescimento econômico da década”.

Ele prosseguiu: “Adotá-lo significará lucros enormes, milhões de empregos na indústria e ar limpo. Ignorá-lo apenas envia toda essa vasta riqueza para as economias concorrentes, enquanto os desastres climáticos como secas, incêndios florestais e supertempestades continuam a piorar, destruindo propriedades e empresas, atingindo a produção de alimentos em todo o país e gerando inflação de preços em toda a economia”.

Secretário-executivo da Convenção do Clima onde está encaixado o Acordo de Paris, Stiell disse que “a porta continua aberta para o Acordo de Paris e agradecemos o engajamento construtivo de todo e qualquer país”.

Laurence Tubiana, presidente-executiva da European Climate Foundation e arquiteta do Acordo de Paris, lamenta a saída dos EUA do Acordo de Paris: “A ação climática multilateral provou ser resiliente e é mais forte do que as políticas e os políticos de qualquer país. A Europa, juntamente com outros parceiros, tem agora a responsabilidade e a oportunidade de assumir a liderança. Ao avançar com uma transição justa e equilibrada, a UE pode mostrar que uma ação climática ambiciosa protege as pessoas, fortalece as economias e cria resiliência”.

“A crise climática não pode ser enfrentada por nenhum país sozinho. Exige uma resposta multilateral. Mas este momento deve servir como um alerta para reformar o sistema, garantindo que os mais afetados, como as comunidades e indivíduos na linha de frente, estejam no centro de nossa governança coletiva”, acrescentou.

“O Acordo de Paris continua sendo mais essencial do que nunca”, argumenta Ani Dasgupta, presidente do World Resources Institute (WRI). Ainda segundo ela:

“As negociações climáticas da ONU são a única plataforma em que todas as nações têm voz em um dos desafios mais urgentes de nosso tempo. Seja para lidar com os impactos climáticos catastróficos que enfrentam ou para aproveitar as tecnologias verdes em rápido crescimento, os países reconhecem o valor fundamental desse processo internacional. É por isso que estou confiante de que praticamente todas as nações continuarão comprometidas com o Acordo de Paris, apesar da saída dos Estados Unidos”.

Negligência

Gina McCarthy, ex-conselheira climática nacional da Casa Branca e ex-diretora da EPA, a agência ambiental americana, diz que “ao abandonar o Acordo de Paris, este governo abdica de sua responsabilidade de proteger o povo americano e nossa segurança nacional”.

Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima, maior rede de entidades da sociedade civil brasileiras voltadas para a crise do clima, lembra que, nos 30 anos de negociações multilaterais de clima, os Estados Unidos “sempre foram o país problemático”. Também cita que os Estados Unidos ameaçaram sequer assinar a convenção do clima, em 1992, saíram do Protocolo de Kyoto em 2001: “Desde sempre a comunidade internacional tem feito ginástica como uma eterna tentativa de colocar os país a bordo”.

Angelo lembra precisamente que os Estados Unidos tiveram alguma liderança no processo nos últimos anos do governo Obama e Biden. “Mas sempre fechados para iniciativas de Perdas e Danos, e se recusando a dar dinheiro para financiamento climático. Talvez agora a comunidade internacional entenda que, qualquer tentativa de combater a mudança do clima, terá que acontecer sem os norte-americanos”. (Com informações do jornal Valor Econômico)

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