Faz 25 anos que Jack e Rose se conheceram no “Titanic” de James Cameron. Para o diretor, parece que foi ontem. Ele tem certeza de que as mensagens do filme, que volta aos cinemas remasterizado em alta definição na quinta-feira (9), estão mais atuais e relevantes do que nunca. Não apenas porque histórias de amor não envelhecem, mas porque, para ele, a tragédia do navio – o maior e mais moderno da época, que afundou em 14 de abril de 1912, matando 1.500 pessoas – é uma metáfora do estágio atual do planeta.
Militante de causas ambientais, Cameron vê o aquecimento global como o iceberg que rasgou o casco e pôs à prova toda a tecnologia do barco. Os países ricos são a primeira classe; as nações em desenvolvimento, os passageiros do porão. Para eles, os primeiros, como Rose (Kate Winslet), têm mais chance de se livrar de tragédias. Para os demais, o fim pode ser o mesmo de Jack (Leonardo DiCaprio).
“Estamos num ponto em que vemos o iceberg. Ele está bem na nossa frente. Precisamos manobrar o barco de alguma forma”, diz o canadense, de 68 anos. “Todos vão sofrer, mas os países pobres e em desenvolvimento vão sofrer mais quando essas coisas assustadoras acontecerem, e os oceanos, as queimadas e as secas aumentarem e nos impactarem ainda mais.”
O diretor da franquia “Avatar” – o segundo filme estreou em dezembro e manteve a mensagem principal de conservação ambiental e respeito a culturas originárias no universo fictício de Pandora– diz que pode ficar falando por horas sobre como suas criações se relacionam com a ecologia. E o Brasil está no centro de suas atenções. Ele já esteve no país diversas vezes, e se lembra de visitar a região da construção da usina de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. Em 2010, esteve em Brasília, juntamente com a atriz Sigourney Weaver, uma das estrelas de “Avatar”, e protestou contra a autorização do governo Lula para as obras. Na época, chegou a ser criticado pelo vice-presidente José Alencar, que disse: “Se passar da conta, tem que dar um ‘pito’ nele”.
“Estive em Belo Monte diversas vezes. Lutamos muito lá e não vencemos as forças da civilização. É um pouco assustador, mas você não para, não desiste, né?”
Cameron admite não estar por dentro de tantos detalhes da crise humanitária do povo ianomâmi (“Não lidei pessoal e diretamente com eles, mas é algo que quero investigar”, afirma o canadense, que diz ser mais ligado ao grupo caiapó). Mas anda esperançoso com o rumo que o Brasil tomou agora neste “navio” chamado planeta Terra.
“Talvez com o Lula de volta haja alguma chance (de mudança em relação à política ambiental)”, diz o diretor. “Eu gostaria de pensar que os brasileiros estão se inclinando para dar o exemplo, para a ideia de seu papel no cenário global. O Brasil está no centro dessa tensão e desse conflito no mundo sobre quem tem responsabilidade pelas mudanças climáticas. Estamos no mesmo barco.”