Terça-feira, 01 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 29 de março de 2025
Morreu nesse sábado (29) aos 85 anos, o advogado, jornalista e poeta Marcos Vilaça, ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele estava internado em uma clínica de Recife (PE) e sofreu falência múltipla de órgãos. Viúvo de Maria do Carmo Duarte Vilaça, ele teve três filhos: Rodrigo Otaviano, Taciana Cecília e o marchand Marcantônio (falecido em 2000).
Vilaça ocupou cargos importantes na administração pública do Brasil e de seu Estado natal, e construiu uma carreira significativa na literatura. Sétimo ocupante da cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras (ABL), presidiu a instituição nos biênios 2006/2007 e 2010/2011. Em seus mandatos, ajudou a modernizar e democratizar o acesso à Casa de Machado de Assis, abrindo os salões, renovando as atividades da instituição e consolidando a sua presença na internet.
“A Academia não pode ser um velhário, um depósito de velhos”, disse ao em entrevista de 2010, fazendo jus à sua fama de bom frasista.
Nascido no município de Nazaré da Mata, no Estado de Pernambuco, em 1939, Vilaça era considerado um pensador da cultura brasileira. Vencedor do Prêmio Joaquim Nabuco da Academia Pernambucana de Letras, o seu “Em torno da sociologia do caminhão” trouxe uma dimensão sociológica para o caminhão. O autor percebeu que o veículo havia se tornado fundamental para o desenvolvimento as cidades do país, a ponta delas nascerem em torno dele (e não mais em torno dos litorais).
Outro livro importante, “Coronel, coronéis: Apogeu e declínio do coronelismo no nordeste” (co-escrito com Roberto Cavalcanti em 1965) é considerado um clássico sobre as estruturas de poder no nordeste do século passado, dominado por coronéis. Vilaça publicou ainda obras como “Nordeste: Secos & Molhados” (1972), “Recife Azul, líquido do céu” (1972), “O tempo e o sonho” (1984) e “Por uma Política Nacional de Cultura – Ministério da Educação e Cultura” (1984).
Em 1966 tornou-se chefe da Casa Civil do estado de Pernambuco, no governo de Paulo Guerra e no início da década de 1970 foi responsável por algumas secretarias na gestão de Eraldo Gueiros Leite. Exerceu o cargo de primeiro-secretário da Aliança Renovadora Nacional (Arena) e, posteriormente, foi um fundadores do Partido da Frente Liberal (PFL), atual União Brasil (UNIÃO).
Próximo de José Sarney, foi nomeado pelo então presidente ao Tribunal de Contas da União (TCU) em 1988. Ministro do TCU por mais de duas décadas, ajudou gestão ampliou as relações internacionais do órgão, costurando acordos de cooperação técnica, científica e cultural. Ao longo dos anos, Vilaça permaneceu próximo ao ex-presidente, que o recebeu na ABL em 1985.
Para Sarney, Vilaça foi “uma das maiores personalidades presentes na vida cultural, educacional e defensor dos direitos sociais do Brasil”.
“Perco um dos meus maiores amigos de estreita amizade que muito me enriqueceu a convivência”, disse o ex-presidente, em nota. “Junto-me aos seus filhos nesse momento de perda e de dor que também são minhas.”
Conhecido por sua elegância, Vilaça gostava de usar ternos listrados, chapéus panampás e gravatas estampadas lhe renderam comparações com os escritores e ícone fashions americanos Truman Capote e Gay Talese. Sua cadeira pertenceu a outra elegante figura da cultura carioca, o cronista e escritor Paulo Barreto, vulgo João do Rio.
“Marcos Vilaça foi, sobretudo, um intelectual público”, disse Merval Pereira, presidente da ABL. “E daqueles que não viam separação entre o erudito e o popular, ao contrário. Fez questão de levar para a Academia Brasileira de Letras, que presidiu por duas vezes, a cultura popular. O que marcava sua atuação intelectual, alem do humor sarcástico, era a criatividade.”
Marcos Vilaça será cremado em Recife. Suas cinzas serão jogadas na Praia de Boa Viagem, assim como as de sua esposa Maria do Carmo.
Em nota, o Ministério da Cultura lamentou a morte do acadêmico. “Com sua forte contribuição política e social, é uma importante referência brasileira, cujo legado será lembrado e continuado por todos aqueles que conviveram e aprenderam com seus feitos”, informou a nota.
A morte de Vilaça ocorreu no mesmo dia em que era velada na sede da ABL, no Rio de Janeiro, a escritora Heloisa Teixeira, também integrante da ABL e que morreu na sexta-feira (28), com a mesma idade de Vilaça.
(Com informações do jornal O Globo)