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Últimas Aos 89 anos, morre o escritor John Le Carré

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Ex-espião inglês durante a Guerra Fria, ele não resistiu a uma pneumonia. (Foto: Divulgação)

O escritor John Le Carré morreu no último sábado (12), aos 89 anos, na Cornualha, região do sudoeste da Inglaterra. De acordo com um comunicado publicado no site da editora Penguin, ele não resistiu a uma pneumonia. O escritor se notabilizou por seus livros sobre espionagem, situados durante a Guerra Fria.

Nascido David Cornwell, Carré atuou como agente secreto na Suíça, enquanto estudava alemão no país, no final da década de 1940. Mais tarde, foi professor na tradicional escola de Eton, na Inglaterra, antes de ingressar no Serviço de Relações Exteriores britânico como oficial de inteligência. Seu trabalho era recrutar e comandar espiões em um escritório do MI5 em Londres.

Nessa mesma época, começou a escrever — sempre à mão — suas obras, que revolucionaram a literatura de espionagem. Entre elas, destacam-se “O espião que veio do frio”, “O gerente da noite”, “O espião que sabia demais” e “O jardineiro fiel”. Parte da produção também foi adaptada para o cinema e a TV.

O ano que marca o início da aventura de Cornwell na literatura é 1961, quando o autor publicou “O morto ao telefone”. A história apresentaria o maior personagem de sua carreira, o também espião George Smiley, que voltaria a aparecer em livros como “A vingança de Smiley” (1979) e em sua obra-prima, “O espião que saiu do frio”, publicado em 1963.

Naquele ano, o Muro de Berlim mal havia completado seu segundo aniversário. O mundo ainda tentava entender a dimensão política e social da divisão da Alemanha, e Cornwell ainda era um jovem funcionário do serviço secreto britânico. O livro relatava a trágica missão de um Alec Leamas, um agente inglês infiltrado no lado oriental de Berlim.

A história era fictícia, mas verossímil. Mesmo tendo assinado com o pseudônimo de John le Carré para preservar sua identidade, o autor perdeu o emprego. O universo da espionagem acabou para Cornwell, enquanto a marca Le Carré viveria para sempre.

Até então, o modelo de espião para a literatura era o James Bond de Ian Fleming — suave, urbano, sedutor e dedicado à rainha e ao país. Com seu talento impecável para sair de problemas enquanto levava as mulheres para a cama, Bond alimentou o mito da espionagem como uma traquinagem glamorosa e excitante.

Le Carré, por sua vez, virou essa noção de cabeça para a baixo com seus livros que retratavam as operações da inteligência britânica como fossas de ambiguidade, em que o certo e o errado andavam próximos demais. Mal vestido, infeliz e implacável, George Smiley é o personagem que melhor representa a sequência de espiões solitários e desiludidos inaugurada por Le Carré. Nas obras do escritor, a espionagem não passa de um trabalho movido por problemas de orçamento, jogos de poder burocráticos e maquinações opacas de políticos. Seus executores, os agentes de inteligência, são meros homens que têm tanta probabilidade de serem traídos por colegas e amantes quanto pelo inimigo.

Mary Mount, editora de John le Carré na Penguin Random House nos últimos dez anos de sua vida, disse ao site da editora: “A morte de John le Carré é uma grande perda para todos nós que o amamos e admiramos, e para o mundo cultural e a paisagem política deste país. Carré foi um escritor que se preocupou quase tão profundamente com seu país quanto com seu trabalho. A qualidade de seus escritos nunca esmoreceu em uma coleção de romances verdadeiramente invejável. Sua capacidade de trabalhar duro era extraordinária, e ele também me fazia rir muito.”

Ao site, Jonny Geller, CEO do The Curtis Brown Group e agente de le Carré, disse: “Ele foi um gigante indiscutível da literatura inglesa. Carré definiu a era da Guerra Fria e falou sem medo a verdade ao poder nas décadas que se seguiram. Seu trabalho foi lido e amado em todo o mundo durante seis décadas. Representei David por quase 15 anos. Perdi um mentor, uma inspiração e, o mais importante, um amigo. Não veremos alguém como ele novamente.”

A família do escritor também publicou uma nota lamentando sua morte:

“É com grande tristeza que devemos confirmar que David Cornwell — John le Carré — faleceu de pneumonia na noite de sábado após uma breve batalha contra a doença. David deixa sua amada esposa há quase cinquenta anos, Jane, e seus filhos Nicholas, Timothy, Stephen e Simon. Todos nós lamentamos profundamente sua morte. Nossos agradecimentos vão para a maravilhosa equipe do NHS no Royal Cornwall Hospital em Truro. pelo cuidado e compaixão que demonstrou durante sua internação. Sabemos que eles compartilham nossa tristeza.”

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