Terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 9 de julho de 2023
Na sala de parto, a identificação da idade gestacional de um bebê prematuro é determinante para salvar uma vida. A atuação médica a partir do nascimento depende de saber quantas semanas a criança atingiu na barriga da mãe antes de vir ao mundo.
“A primeira coisa a saber é qual idade gestacional do bebê porque os protocolos são feitos em função da idade. Se for 34 semanas, é um jeito; 35, é outro; 33”, explica o astrofísico e pesquisador Rodney Guimarães.
Atento a esse detalhe essencial, o pesquisador, por meio de uma start-up, desenvolveu o dispositivo batizado Preemie-Test, distribuído no Brasil por uma empresa de Ribeirão Preto. O trabalho recém-aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi feito em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Ele determina, de forma quase instantânea, a idade gestacional e a maturidade pulmonar de recém-nascidos prematuros.
Prematuridade
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), bebês que nascem antes de completar a 37ª semana de gestação são considerados prematuros.
De acordo com a Fiocruz, a idade gestacional é desconhecida ou imprecisa em cerca de 55% dos 3 milhões de partos realizados anualmente no Brasil.
Isso acontece por falta de ultrassom obstétrico que precisa ser realizado antes da 14ª semana de gestação.
Apesar de o exame ser considerado obrigatório, na realidade, não são todas as mães que têm acompanhamento pré-natal adequado.
“Para se ter uma ideia, no Amazonas, se você quiser fazer um ultrassom neonatal, só tem em Manaus. Imagina se você é uma ribeirinha e, até chegar na capital, são 12 dias de barco”, exemplifica Guimarães.
Infelizmente, a insuficiência no atendimento a gestantes é uma realidade brasileira, como aponta Everton Buzzo, diretor de marketing e inovação da Olidef, empresa ribeirão-pretana que distribuiu o dispositivo.
“Isso acontece em várias cidades pequenas, dos rincões brasileiros e do mundo”, afirma.
Segundo Buzzo, o Preemie-Test pode ser usado por profissionais de saúde, independentemente de suas formações: podem ser parteiras, médicos obstetras ou neonatologistas.
Por isso, a meta de Guimarães ao unir forças com a empresa é bem definida.
“Nosso objetivo hoje é fazer a distribuição desse equipamento em todo o cenário de parto no Brasil todo, seja ele de baixa ou alta complexidade”, diz o pesquisador.
Pesquisador explica como funciona dispositivo que avalia idade gestacional e maturidade pulmonar de bebês prematuros — Foto: Reprodução/Bárbara Marques
Teste
O Preemie-Test é um pouco maior que uma caneta esferográfica, um tamanho que pode, facilmente, caber no bolso de um jaleco. Ele usa um algoritmo de inteligência artificial e luz de LED para analisar a reflexão e a absorção da luz na pele do recém-nascido.
O aparelho tem um único botão para ligar e desligar. Uma vez ligado, o usuário precisa decidir o idioma: o teste está disponível em português, inglês e espanhol. Em seguida, já é possível realizar a medição.
Para fazer a medição, basta pressionar a ponta do aparelho, por onde sai a luz, no pé do recém-nascido. O aparelho deve sempre ficar em contato com a pele da criança e perpendicular ao pé.
O resto do procedimento é automático: o dispositivo vai pedir três medições, número que os médicos já estão bem familiarizados. Mas, na verdade, o Preemie faz dez medições a cada vez, ou seja, são 30 medições. Tudo para garantir uma boa estatística.
Em seguida, o aparelho vai pedir o peso do bebê em gramas e vai perguntar se a mãe usou corticosteroide, medicamentos mais fortes disponíveis para reduzir a inflamação no corpo e podem ser usados em mães que sejam obesas, hipertensas ou diabéticas, características que indicam uma gravidez de risco. Nesta etapa, é possível selecionar “sem informação”.
Por fim, o dispositivo pede para que o usuário valide as informações e, finalmente, aponta a idade gestacional.
O Preemie-Test não mede só a idade gestacional, mas também a maturidade pulmonar dos recém-nascidos. Ou seja, mesmo em casos de mães que tiveram o pré-natal adequado e os médicos têm certeza da etapa em que a gestação está, o aparelho ainda pode ser usado não apenas para validar o conhecimento, mas para trazer uma informação importantíssima.
No display, o usuário pode optar por conferir se o bebê precisa de suporte respiratório, se ele tem síndrome de desconforto respiratório ou se é indicado que ele vá para a UTI. A decisão final é sempre do médico, mas o aparelho vai indicar as probabilidades.
Sem o aparelho, esse diagnóstico requer um neonatologista, pediatra especializado em recém-nascido até 28 dias, e um raio-x.
“É legal fazer um raio-x em um bebê de 500 gramas? Não, não é. A maior parte das incubadoras não tem essa facilidade, e mesmo assim, demora, leva o raio-x, traz o raio x, revela, traz a imagem. Aqui a gente faz em 30 segundos”, explica Guimarães.