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Por Redação O Sul | 24 de junho de 2015
Um levantamento feito pelo Ministério do Esporte mostra que apenas 32,1% dos brasileiros se exercitam regularmente e 46% são sedentários. Entre os que já iniciaram uma atividade esportiva, 72% desistiram antes dos 24 anos.
Os dados da pesquisa Diesporte (Diagnóstico Nacional do Esporte) se referem ao ano de 2013. Foram entrevistadas 8.902 pessoas, de todos os Estados do País.
O índice de sedentarismo brasileiro supera o de países como EUA (40,5%), Rússia (20,8%), China (31%) e Índia (15,6%), mas fica atrás do de países como Argentina (68,3%), África do Sul (52,4%) e Portugal (53%), de acordo com a pesquisa.
A maioria (70%) dos que abandonaram a prática de atividade física em 2013 alegou falta de tempo por causa de estudo, família e trabalho.
Depois, entre os motivos, aparecem, nessa ordem, problemas de saúde, preguiça e falta de resultados.
Segundo Nabil Ghorayeb, cardiologista e especialista em medicina do esporte, as dificuldades de manter uma pessoa motivada com a prática de exercícios não são muito diferentes das de manter o uso crônico de um medicamento, como um anti-hipertensivo. Em um ano, mais de 60% dos pacientes interrompem o uso da droga por conta própria, afirma ele.
Para a psicóloga e professora da Escola de Educação Física e Esporte da USP Katia Rubio, o gosto pela prática tem que ser desenvolvido na infância. “O desprezo à educação física escolar leva a um analfabetismo funcional do movimento humano.”
Ricardo Nahas, coordenador do Centro de Medicina do Esporte do Hospital 9 de Julho, toca no mesmo ponto. “Nos Estados Unidos, existe a cultura esportiva no high school. Aqui, não.”
Rubio afirma ainda que não basta a consciência dos malefícios de ficar parado para que a pessoa saia da inércia –de fato, a pesquisa mostra que 36% dos que não praticam exercícios têm noção dos riscos, mas não demonstram esforço para mudar.
“É preciso a experiência prazerosa adquirida ao longo dos anos de prática para que a atividade física se torne imprescindível à vida.”
“As pessoas têm que entender que fazer exercício é como escovar os dentes. Se você não tiver no dia, vai fazer falta”, afirma Nahas.
Segundo a pesquisa, quanto maior o nível de educação e renda familiar, maior é a prática de esportes.
Vida urbana
Os especialistas são unânimes em afirmar que a vida na grandes cidades acaba dificultando a prática de exercícios. Na pesquisa, o Sudeste apresentou o menor índice de atividade regular.
Ghorayeb aponta que um entrave para a prática esportiva ao ar livre é a violência.
“Existe um status relacionado à falta do movimento, ao carro novo, ao vidro elétrico. Além disso, as pessoas gastam muito tempo em transporte, e no fim sobra pouco para a atividade física”, diz Nahas.
“O bizarro disso tudo é que é preferível ir a uma academia para se exercitar em esteiras elétricas ou bicicletas estacionárias. O mundo moderno provoca isso”, afirma Katia Rubio. (Gabriel Alves/Folhapress)