Quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
Por Ali Klemt | 16 de fevereiro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Costumo ouvir, certamente com a maior boa-fé, que não se torce contra o governo, já que “estamos no mesmo voo, e não queremos que ele caia”. Há semanas penso sobre essa expressão, porque algo dentro de mim se incomoda ao ouvi-la… Eu compreendo, de verdade, a boa vontade nessa fala. Afinal, somos todos cidadãos (cidadãos, com “ão”, que fique bem claro) do mesmo país, e uma economia que vá ladeira abaixo prejudica a todos. Correto? Sim.
Ocorre que passamos dessa fase. O atual governo, que sequer se pode chamar de novato na gestão pública, já se encontra no terceiro ano do terceiro mandato e não entregou nada. Pelo contrário, oferece um Brasil que caiu no ranking da corrupção, encara um dólar altíssimo, uma inflação assustadora e, em contrapartida, não vemos melhora nas condições do povo – que, aliás, sequer consegue comprar café, tão caro ficou. Aliás, você sabia que criaram um produto que é o café fake? O café que não é café tem sido vendido para driblar essa paixão do brasileiro por um produto que, pouco a pouco, se tornou inacessível.
Esse fato é especialmente cruel se considerarmos que o Brasil é o país do café. Não sei se em qualquer outro local existe essa familiaridade com o insumo, essa sensação de que ele é tão normal, quase como a água. Não se trata de um capuccino ou macchiato. Não estou falando de máquinas modernas ou cápsulas aromatizadas. Estou relembrando que passar o café com água quente em um filtro de papel e tomar baldes dele durante o dia é algo profundamente enraizado em nossos costumes familiares. Eu, particularmente, tenho horror a café de máquina, mas não resisto ao cheirinho do café sendo passado pela manhã.
Em 1860, o Brasil fornecia 60% de todo o café produzido no mundo. O café foi responsável por moldar parte da nossa cultura. Hoje, porém, uma caixa de café popular custa mais de R$ 30,00, tornando impraticável para quem vive de um salário mínimo sequer comprá-lo! Você acha isso normal? Eu não acho.
Daí porque retorno à reflexão inicial. Que este imenso voo chegue ao seu fim em breve. E em segurança. Porém, as turbulências estão cada vez mais intensas e o risco é iminente. Não podemos cair, sob pena de todos sucumbirmos.
Por outro lado, é absolutamente impossível imaginar o sucesso dessa gestão, se não vermos um movimento em prol do mercado. Do empresariado. Dos negócios. E, queira você ou não, é daí que vem o dinheiro que aquece a economia, que dá empregos, que permite as compras, que torna mais interessante investir por aqui. Porém, nos tornamos um país arriscado, instável, fraco. Ninguém confia no Brasil. Ninguém mais acredita na pujante economia daqui, porque ela não existe. Somos um país com milhões de beneficiados pelo bolsa-família, sem previsão de mudarem de vida – porque não há investimento, muito menos incentivo, para que as pessoas PROSPEREM. Onde não há olhar para a prosperidade, existe apenas estagnação e miséria. Se a ajuda é importante, o estímulo ao crescimento é essencial.
Pego-me com a nota fiscal do supermercado na mão, refletindo sobre isso tudo. Pensando no quanto o dinheiro deixou de valer. Questionando quantas pessoas podem pagar uma conta como a minha (que nem como muito, aliás). Não dá. Está tudo caro demais. Há anos. O Brasil está insustentável e não há mais como lidar com a verdade inarredável que algo precisa mudar. Senão hoje, pelo menos em 2026.
Vamos tentar aterrissar com suavidade, na medida do possível. Apertem os cintos, senhores, porque devemos passar por áreas de turbulência. Talvez tenhamos que pegar as máscaras de oxigênio para garantir a nossa sobrevivência, mais um pouquinho – mas espero que o povo brasileiro entenda que temos uma necessidade urgente: precisamos trocar de piloto antes de decolarmos novamente.
Ali Klemt
@ali.klemt
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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