Apesar da série de escândalos que abateram o setor de carnes neste ano, as exportações do produto sobreviveram ao turbilhão do começo de 2017 e vivem agora o seu melhor momento em anos. As vendas para o exterior cresceram 5% de janeiro a agosto em relação ao mesmo período do ano passado, mas o que mais chama a atenção são os dados recentes. Em agosto, as exportações somaram 608 milhões de dólares, alta de 34% na comparação com o mesmo mês de 2016 e o melhor resultado desde dezembro de 2014 -em volume, as vendas chegaram a 146 mil toneladas, algo que não era visto desde outubro de 2013.
Esse foi o segundo mês consecutivo de resultados bem acima da média para a proteína. Em julho, as vendas em valor haviam crescido 31%, para 540 milhões de dólares. A melhora das vendas para o exterior marca uma reviravolta no desempenho do setor, que até maio acumulava queda de 6% na exportação. Os primeiros meses do ano foram marcados por uma sequência de crises para a imagem da carne brasileira.
A primeira e mais importante, ainda em março, foi a Operação Carne Fraca, em que a Polícia Federal investiga um esquema de fraude e corrupção em frigoríficos. Na sequência, em maio, vieram a delação premiada de executivos da JBS, a maior companhia nacional do setor, e a suspensão pelos Estados Unidos da importação da carne do país devido a preocupações sobre a qualidade do produto. Uma das consequências da operação da PF é que vários países impuseram barreiras à carne brasileira -alguns chegaram a interromper as importações do produto.
A maioria dos países reabriu logo as portas para a carne brasileira, mas a imagem já estava abalada. O caso mais claro é o do Egito, terceiro maior comprador do produto nacional em 2016. Só agora as vendas para o país árabe começaram a engatar novamente, depois de um início de ano em que os embarques para lá caíram 66% até maio. Em agosto, os egípcios importaram US$ 82 milhões, aumento de 28%, e só foram superados por Hong Kong. A queda no ano já foi reduzida à metade: 34%. Os maiores compradores da carne brasileira neste ano são a dupla Hong Kong e China.
Enquanto o primeiro levou 814 milhões de dólares (alta de 16%), o segundo aumentou em 37%, para 552 milhões de dólares. O principal baque para a indústria agora foi a decisão americana de suspender em junho as compras da carne “in natura”. Após mais de uma década de negociações, as vendas tinham sido liberadas pelos EUA em meados de 201.
O volume importado do Brasil pelos EUA é pequeno (era 2,8% do total até maio, por exemplo). Os americanos, no entanto, são os principais importadores de carne bovina no mundo e parâmetro de sanidade para outros países. (Folha de S. Paulo)