Sexta-feira, 28 de março de 2025
Por Redação O Sul | 24 de março de 2025
Apesar da tendência de desaceleração em razão principalmente dos juros mais altos, a economia brasileira deve continuar crescendo acima do potencial. Conforme analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, o chamado hiato do produto – diferença entre o crescimento efetivo e o potencial – pode continuar positivo por mais dois anos, tendo agora a contribuição dos últimos estímulos ao consumo anunciados pelo governo: liberação do saldo retido do FGTS, crédito consignado ao setor privado e isenção do imposto de renda a mais brasileiros.
O hiato é uma das variáveis observadas pelo Banco Central (BC) nas decisões sobre juros, já que quanto mais a atividade cresce acima do potencial, maior é a pressão sobre a inflação. “A resiliência do hiato vem muito dos impulsos dados desde o começo do governo. Houve um aumento importante dos gastos no primeiro ano, depois vieram os pagamentos de precatórios, e agora entra uma nova fase de estímulos”, comenta Luciano Costa, economista-chefe da corretora Monte Bravo.
Ele observa que a diferença entre o crescimento efetivo e o potencial diminuiu, mas não deve zerar antes do quarto trimestre. “Vamos ter ainda um período de crescimento acima do potencial, dado o nível que o PIB atingiu”, prevê o economista. Em seu último relatório trimestral de inflação, publicado em dezembro, o BC estimava em 0,7% o hiato no quarto trimestre do ano passado.
Segundo o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o hiato – estimado por ele em 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) – só deve voltar para perto da neutralidade no segundo semestre de 2026. “Novos estímulos fiscais e parafiscais tendem a acelerar a demanda, mas há o risco de que parte desse movimento se traduza em maior pressão inflacionária e, também, leve a uma deterioração adicional da conta corrente, com possíveis efeitos sobre a taxa de câmbio”, diz Adauto.
No cenário do Itaú Unibanco, o hiato deve diminuir nos próximos trimestres. O banco estima a parcela do PIB acima do potencial em 1,5%. “Os novos estímulos fiscais terão impacto semelhante aos das medidas lançadas nos últimos anos. No entanto, no momento, os efeitos defasados da política monetária mais contracionista devem contrabalançar parte desses estímulos”, avalia a economista do Itaú Natalia Cotarelli. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.